Rio Corrente (esq. e adiante), Rio Formoso (dir.), Ilha da Posse (foz do Rio Formoso) e Ilha do Canta-Galo, mais abaixo. Informações: Hermes Novais. Foto: Dão Serpa. |
A poesia Ave Corrente foi escrita em 1990, quando da realização da X Semana de Arte e Cultura de Santa Maria da Vitória. Ela está na página 77 do livro, de minha autoria, e de mesmo nome.
Nos seus versos, faço uma viagem poética através do nosso majestoso Rio Corrente, não este que já se encontra assoreado e a pedir urgente socorro, mas o rio das décadas de 1960 a 1980, da minha geração e gerações anteriores, quando ainda se tomava banho e pescava em toda a extensão do cais, no porto de Seu Zome, na rampa de pedra, que serviu de porto por muitos anos, onde as mulheres lavavam utensílios domésticos ou "trens", roupas e as estendiam para quarar ao Sol na grama das Pedrinhas.
Logo a seguir, vinham os extintos Banheiros dos Homens e dos Urubus. Neste último, era onde se tratavam vísceras de animais, o que atraía tais aves, daí o nome. Depois, Pedra Branca e Poço Fundo, e mais adiante, o Banheiro das Raparigas, local frequentado pelas mulheres dos outrora famosos bordéis santa-marienses: Pingo d’Água, Pingo de Prata e Pingo de Ouro.
Mais abaixo, ainda perdura o porto da Sambaíba, onde meu pai, Tião Sapateiro, tinha um curtume, e lá também se tratavam vísceras de animais abatidos no Matadouro Municipal, o triste e horrendo Curral da Matança, como era mais conhecido, do qual trago lembranças não muito boas.
E, por aí vai Ave Corrente e o nosso ainda belo (e agredido) Rio Corrente nos versos da poesia, até encontrar, na cidade de Sítio do Mato (BA), o seu destino, o Rio São Francisco, o Velho Chico, igualmente maltratado e sofrido. Confiram. Muito obrigado.
Tamarindeiro durante a enchente de 1988, quando ainda não existia o barco de pedras. Foto: Novais Neto. |
E lá vem ele...
Elegante, límpido, assombrosamente belo,
Deixando atrás de si um cenário de beleza,
Uma certeza de vida.
Silencioso, calcário, trazendo de tudo,
Inclusive uma grande ameaça:
A temida endamoeba histolytica.
Mas nem isso faz medo. Ele é majestoso,
Contraditoriamente, saudável, caudaloso.
E lá vem ele...
Sofrendo agressões, terríveis maus tratos.
Envenenam suas águas, sufocam-no o grito,
Desnudam-lhe as margens... a nascente,
E ele parece indiferente.
Engano puro! Espera apenas por um instante
Para mostrar sua fúria.
E aí, paga o pecador, paga o justo
E dá um tremendo susto
No nosso Tamarindeiro,
Mas, ainda assim, proporciona
Um espetáculo de força e beleza,
Quando sai do seu leito,
Que não é de morte,
E se põe vitorioso a bailar...
Muitos vão dançando, levados pelo
Embalo fatal da força da correnteza.
E aqueles que o desafiaram... Coitados!
São fracos, não podem com a Natureza.
E lá vem ele...
Tranquilo e profundo, exaltando o poder,
O ímpeto da juventude, e para trás
Vão ficando nomes pitorescos, originais,
Exóticos: Canta-Galo, Pedreiras e o Porto
Que virou Santa e trouxe muitas Vitórias.
E lá vem ele...
Fazendo amizades, procurando intrigas,
Molhando a terra, construindo banheiros:
Dos Homens, dos Urubus, das Raparigas.
Contorna a pedra, a Volta da Pedra.
Cria portos: Porto Novo, Cana-Brava.
Antes, dá um toque no Domingão
E, quando olha para trás...
Já cumpriu sua missão.
Agora... É só dormir
No peito do Velho Chico.
Não é preciso mistério porque,
Apesar dos seus contrastes,
Ao lado da Santa ele corre rente,
Louvando a vida, fazendo esperança,
Deixando a marca do Rio Corrente!
Ilha do Canta-Galo. Foto: Rosa Tunes. 2013. |
Morro do Domingão. Santa Maria da Vitória (BA). Foto: Novais Neto. 2013. |
Porto da Cana-Brava. Santana (BA). Acervo: Adson Oliveira. 2018. |
Porto Novo. Santana (BA). Acervo: Beto Murmúrios. 1996. |
Encontro do Rio Corrente com o Rio São Francisco. Foto / Reprodução: Dêniston Diamantino. 2021 |
Encontro do Rio Corrente com o Rio São Francisco. Foto / Reprodução: Dêniston Diamantino. 2021 |
DIAMANTINO. Dêniston. Rio Corrente até a foz no Rio São Francisco (vídeo). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=x172kXR7_I4>. Acesso em: 7 set. 2021.
Que maravilha é sse poema do nosso corrente que muito nos orgulha! Ainda belíssimos mas com alguma dificuldades de respirar devido às diversos degetos que ainda é jogado nele. Parabéns "Novas"
ResponderExcluirObrigado, meu amigo. Abraço.
ExcluirQue bacana esse seu compromisso em repaginar seus escritos e nos deixar mais próximos das nossas origens. Obrigado Nova!
ResponderExcluirObrigado, meu amigo. Abraço .
ResponderExcluirPOEMA DESLUMBRANTE
ResponderExcluirou MARAVILHOSA POESIA
CANTANTE?
RIO FAZENDO POESIA
OU POÉTICA CANÇÃO
DE UM RIO CANTANTE?
UM RIO QUE ENFEITIÇOU UM POETA
OU UM POETA MÁGICO QUE,
SÁBIA E MAGISTRALMENTE,
SENTE E SABE TRADUZIR
A EMOCIONANDA ALMA DE UM RIO?
PARABÉNS, NOVAIS, POR ESSA PURÍSSIMA
CONSTRUÇÃO DA SUA ARTE POÉTICA.
Obrigado, meu amigo e confrade da União Brasileira de Trovadores (UBT), pelos versos seus. Fraternal abraço.
ResponderExcluirMaravilha de história , cronica , poética e uma bela pitada d humor , sem palavras muito legal essa reliquia d lembrnças maravilhosas do passado., parabéns grande Novais ...
ResponderExcluirObrigado, meu amigo Lucílio. Abraço.
ExcluirObrigado, meu amigo Lucílio. Abraço.
ExcluirGavada sua historia para as gerações futuras Que espalhemos este lamento, esta súplica para que a preservaGavadaja aplicada de maneira contundente. Estarei na lyta.
ResponderExcluirEncantadora sua obra,linda poesia eu estou desnubrada com os detalhes de riquezas que o poeta Novais neto trás sobre o nosso Rio Corrente,vc Novais trás o passado e o futuro deste tão importante rio numa das suas poesias e gratificante para nos pensar o rio sobre o olhar da poesia gostei de mais deste belo trabalho verdadeira obra prima.
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