Nesta crônica, publicada em 1992, no Jornal O Posseiro, de Santa Maria da Vitória (BA), rememoro momentos marcantes do Campeonato de Futebol local do ano de 1991, da outrora Cidade Riso, como era chamada.
Caros leitores,Os imprevistos da vida quase sempre nos põem ante o inexplicável. Quando fatos tomam o endereço da tragicidade e levam brusca e incompreensivelmente vidas viçosas, percebemos, desse modo, quão frágil é nossa existência.
Exemplo disso é o desaparecimento estúpido de João Evangelista de Souza, Bega de Sinhô de Valdete, vitimado por acidente automobilístico em 2/5/1992 na estrada entre Santa Maria da Vitória e Santana. Jovem extrovertido, hábil e astucioso goleador do Monte Castelo, clube santa-mariense.
* * *
Em setembro de 1991, redigi a crônica “O esporte bretão em alta” para o jornal “O Posseiro”, de Santa Maria da Vitória. Entretanto, fatos alheios às vontades deste redator e do editor, Joaquim Lisboa Neto (Kynkas), impediram que o texto fosse levado a público, tornando-o extemporâneo. Agora, por circunstâncias indesejáveis – a morte do atleta Bega – a crônica justifica por si só a publicação.
A seguir, portanto, publicamo-la, primeiro, porque se intenta que seja uma homenagem póstuma ao conterrâneo e amigo Bega, aos familiares e aos desportistas da nossa terra. Segundo, porque a mesma tem caráter de retrospectiva, útil aos amantes do futebol. Desse modo, por estas e outras razões que vão além de explicações meramente racionais, ei-la, portanto, revista e ilustrada:
O esporte bretão em alta
Daquela feita, no entanto, as maiores emoções e surpresas não aconteceram, necessariamente, no mundo das letras, mas no Estádio Municipal Turíbio de Oliveira, o Turibão. Todo domingo lá estava eu assistindo às rodadas do campeonato local. Vi grandes equipes e verdadeiros malabares da bola.
Ao contrário dos grandes centros futebolísticos, onde as torcidas vivem a fugir espavoridas dos estádios – consequência inegável do baixo nível técnico das equipes (além das intermináveis desilusões em copas do mundo) e da política mercenária de cartolas. Ali, os amantes do esporte se fazem presentes em números ascendentes. Creditam-se, sem dúvida alguma, ao espírito amadorístico dos atletas e a eficiente cobertura e divulgação dadas pela Rádio Rio Corrente através dos seus locutores Nildo Reimão e Mário Silva.
Na pista de jogo do Turibão, desfilaram times que, vistos por este observador (também “metido” a técnico de futebol como milhões de brasileiros os são), equilibraram o certame da Cidade Riso, tais como: Monte Castelo, Castro Alves, África e Sambaíba. As demais equipes, sem demérito algum por serem citadas em segundo plano, em muito contribuíram para tal equilíbrio. São elas: Vila Leopoldo, comandada pelo veterano e experiente Terto de Toge, Açudina (distrito de mesmo nome), Vasco (Cuscuzeiro), Rodoclube, Malvão e Monte Real (Barreiro da Canabrava).
Se por um lado, bons times encheram-me os olhos, em matéria de torcida animada, o Sambaíba Futebol Clube, do bairro, outrora rural, onde vivi minha infância e parte da juventude, tem o duodécimo jogador. Guardadas as devidas proporções, sua torcida se assemelha em muito à apaixonada massa rubro-negra do Esporte Clube Vitória (BA). O Aurerrubro, do bucólico bairro, o primeiro da cidade, vale registrar, também sabe retribuir com garra e bom futebol.
Que me perdoem os torcedores do Monte Castelo (Tampinha, também seu jogador) e do Castro Alves (Guinha, seu presidente), vocês estão assistindo a verdadeiras aulas de motivação e amor ao esporte, o que é bom para todos. Alguns – cabe aqui uma ressalva – deixavam-se exagerar nas doses da “água-que-passarinho-não-bebe” e principiam tumultos. Tudo, no entanto, que não terminassem em aperto de mãos.
Quando o jogo, vez por outra, não está agradando, lá eles encontraram uma fórmula mágica e salutar de prender o torcedor. Nos intervalos, promovem disputadas corridas (com direito a aposta e tudo mais) entre “atletas velocistas”, quase sempre “movidos a álcool”, frenesiando a multidão.
Por trás desse fato positivo para o progresso desportivo santa-mariense, há um registro triste a fazer: a repentina perda de uma assídua torcedora, dona Valdete. Todo domingo lá estava ela e com seu inseparável companheiro, Sinhô, a levar fluídos positivos a seus filhos, Bega, excepcional centroavante monte-castelino, e o irmão Christiano, o Renato Gaúcho do Rodoclube. Estão aí, portanto, belos exemplos a serem seguidos.
Quando, por um lado, o desemprego é a principal ocupação de muitos e a escola não vem cumprindo seu papel, o esporte, ainda que não garanta futuro, é um meio eficaz para integração, como também para evitar a degeneração dos jovens, segmento social muito vulnerável aos tropeços da vida.
É importante deixar bem claro, no entanto, que a escola, mesmo distante de oferecer iguais condições de progresso a todos, é imprescindível e, esforçando-se um pouco mais, as possíveis deficiências poderão ser facilmente superadas e/ou minimizada, e não haverá motivos para ignorá-la. Jamais!
Quando o jogo, vez por outra, não está agradando, lá eles encontraram uma fórmula mágica e salutar de prender o torcedor. Nos intervalos, promovem disputadas corridas (com direito a aposta e tudo mais) entre “atletas velocistas”, quase sempre “movidos a álcool”, frenesiando a multidão.
Por trás desse fato positivo para o progresso desportivo santa-mariense, há um registro triste a fazer: a repentina perda de uma assídua torcedora, dona Valdete. Todo domingo lá estava ela e com seu inseparável companheiro, Sinhô, a levar fluídos positivos a seus filhos, Bega, excepcional centroavante monte-castelino, e o irmão Christiano, o Renato Gaúcho do Rodoclube. Estão aí, portanto, belos exemplos a serem seguidos.
Quando, por um lado, o desemprego é a principal ocupação de muitos e a escola não vem cumprindo seu papel, o esporte, ainda que não garanta futuro, é um meio eficaz para integração, como também para evitar a degeneração dos jovens, segmento social muito vulnerável aos tropeços da vida.
É importante deixar bem claro, no entanto, que a escola, mesmo distante de oferecer iguais condições de progresso a todos, é imprescindível e, esforçando-se um pouco mais, as possíveis deficiências poderão ser facilmente superadas e/ou minimizada, e não haverá motivos para ignorá-la. Jamais!
O certame
A Associação Atlética Castro Alves sagrou-se campeã do certame ao derrotar o arquirrival Clube de Regatas Monte Castelo numa disputa de pênaltis, depois de empate sem gols no tempo normal e na prorrogação.
A equipe alviverde santa-mariense foi o destaque em toda a competição. Ganhou o primeiro e o segundo turnos, invicto, tendo extraordinária performance, senão vejamos: empatou 4 vezes e, em 8 oportunidades saiu vitoriosa. Seu ataque fez 27 gols contra 10 sofridos pela defesa. O goleador do time foi Tim de Lídio, que conseguiu vencer os goleiros adversários em 10 oportunidades.
Nas disputas com o Monte Castelo, continuou fazendo o mais empolgante clássico da cidade, o dérbi local, levando muitos torcedores ao extremo das emoções. E não é para menos: em 1991, os dois times defrontaram-se 4 vezes, sem que houvesse vencedor nos 90 minutos. E, a contabilizar Torneio Início, partidas e prorrogações, jogaram 360 minutos e marcaram 6 tentos.
Em termos mais práticos, para mostrar a grandeza dos confrontos entre as duas equipes, é como se elas tivessem jogado por 6 horas – ininterruptamente – marcado um gol a cada hora e, no final da batalha campal, lá estivesse estampado no placar: 3 a 3. Eis, portanto, o inacreditável equilíbrio.
Nas disputas de penalidades máximas, entretanto, o Castro Alves foi superior, tendo vencido todas elas: 5 a 3; 5 a 4 e 3 a 2, graças principalmente aos filhos do padeiro Lídio: Amarildo, Amauri e Tim, implacáveis nas conversões penais, o que já garantia, de antemão, 3 gols para o alviverde santa-mariense.
Restou ao Monte Castelo a grandiosa façanha de não perder uma única partida com “bola rolando” em todo o campeonato, quase sempre abrindo o placar e permintindo o empate; ter o ataque mais eficiente (34 gols marcados); ter o artilheiro da competição, Neinho de Silerino, com 15 tentos, e ser, com méritos inquestionáveis, um respeitadíssimo e quase imbatível Vice-Campeão.
Parabéns a todos que fazem o bom futebol da nossa Santa Maria da Vitória, carinhosamente apelidada Cidade Riso.
Agradecimentos:
A William Chagas de Oliveira (Guinha de Adão Bodeiro), então presidente da Associação Atlética Castro Alves, que me passou, na ocasião, toda a estatística daquela competição esportiva;A Josenilton Ramos Sodré (Mimiu), natural de Bom Jesus da Lapa, jogador de futebol em vários times da região Oeste da Bahia, inclusive de suas seleções, residente em Santa Maria da Vitória desde de 1987.
A Nildo Reimão, um dos fundadores do Sambaíba, Wilson Pereira, Mazinho de Silerino e Bira do Bar.
[Joaquim Neto, via WhatsApp]
ResponderExcluirBom dia!!!
Belo artigo, do time da Sambaíba posso destacar: Wilson, Márcio, Bira e Tenório como amigos de infância, Nildo Reimão foi professor no polivalente. Parabéns pelo registro e memória.
[Cel. Jorge Ubirajara Pedreira, via WhatsApp]
ResponderExcluirBom dia, meu estimado amigo!
Fico, sempre, impressionado com sua primorosa escrita, não só pela preciosidades lliterária, bem como pela riqueza de detalhes com retrata os fatos, nos ensinando, através de narrativas verdadeiras.
Parabéns por mais essa pérola, que, não só nos encanta, mas também mata, um pouco, da saudade da nossa querida Samavi.
[Juraci Santana, via WhatsApp]
ResponderExcluirCampeonato disputado. Melhor que o campeonato baiano. kkk
Eu não podia ficar sem fazer um comentário, na minha época em 1970 á 1979 eu jogava pelo cruzeiro do velho amigo ló e pelo Castro Alves do técnico saudoso SINHOZINHO, onde fui campeão jogando contra o Palmeiras. Lembrei também jogando pelo Castro Alves X monte castelo e fiz um gol de cobertura emcima do goleiro TOURO e o juízo ROQUE ANULOU INDEVIDAMENTE, foi o maior comentário na cidade de Santa Maria. Um forte abraço meu amigo Novaes
ResponderExcluirGilmar Filho de josael
ResponderExcluir[[Valdélio Santos Silva, via WhatsApp]
ResponderExcluirQue maravilha de crônica, Novais! Deu saudade do tempo em que fui jogador amador em Jequié! Gostava muito de jogar bola, dizem que eu jogava direito. Tenha um ótimo domingo e continue escrevendo!
Nildo Reimão, o professor saiu de Salvador para inaugurar o polivalente aqui, lembro do programa dele(Resenha esportiva do meio dia) na AM, na cidade e em toda Zona Rural, depois FM, na atual rádio. E os campeonatos realizados na zona rural.
ResponderExcluirAntônio Nildo Reimão, professor, locutor.
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