domingo, 16 de fevereiro de 2020

Ninho de Garrincha ou Curruíra

Para celebrar a vida, vejam o que a Natureza me proporcionou mostrando-me o surgimento de novos seres, de novas vidas. Confiram e se emocionem também.

Entre os dias 23 de maio e 9 de junho de 2017, filmei e fotografei a cada dois dias três filhotes de garrincha. Quando eles já estavam quase prontos para alçar voo, filmei e fotografei todos os dias, até que, dia 9 de junho, os vi pela última na parte da manhã... Que sigam seus caminhos e continuem a perpetuação da sua espécie. E viva a Natureza! Viva a Vida!

Foram dias maravilhosos, de ansiedade que, hoje, vendo o filme, nem acredito. Agradeço aos meus colegas e amigos Ilmar (Pacote), Afonso Válido, Cláudio Lima e Chico da Empilhadeira, por guardar segredo até o dia em que os filhotes abandonaram o ninho e alçaram voo.

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Convivendo com centenários santa-marienses

Nem sempre nos damos conta, mas num átimo vemos que alguns centenários já cruzaram nossas vidas e outros estão a cruzar. Fiz esta viagem e me encantei. Confira e encante! 

Não é incomum, ao caminhar por cidades do interior, nos depararmos como pessoas centenárias. Tenho observado isso em Santa Maria da Vitória e não por acaso foi esse o principal motivo que me levou a relembrar pessoas longevas com as quais convivi. Claro que não me lembro de todas, por isso mesmo me ative a mencionar aquelas mais próximas a mim (e da minha memória!).

Seu Guarany, o mestre carranqueiro, morador no final da Rua Padre Oton Vieira Lima, apelidada de Rua dos Doidos, certamente foi um dos primeiros conhecidos. Lembro muito bem de vê-lo na sua oficina manejar com sutileza e arte seus instrumentos de trabalho na feitura de carrancas.

Guarany na oficina e na Praça do Jardim Jacaré, aos 100 anos (1983) . Acervo: Jairo Rodrigues da Silva.
Francisco Biquiba Dy Lafuente Guarany (2/4/1882–5/5/1985), Seu Guarany ou Mestre Guarany, como assim o conhecemos, andava desenvolto pelas ruas santa-marienses para além dos 100 anos de vida. Num desses momentos, Tião Fotógrafo ou Tiãozinho Roupa Limpa, como também é conhecido, da Foto Vila Rica, teve a sorte e a sensibilidade de fazer um belo registro do Mestre secular a andar com sua bengala na Praça do Jardim Jacaré. Seu Guarany morreu em 1985, aos 103 anos.

Curiosamente, o mestre das carrancas já havia prometido à escritora Dirce de Assis Cavalcanti, em seu livro O Velho Chico ou A Vida é Amável (Ateliê Editorial, 1998), quando esta esteve em Santa Maria da Vitória, em 1972, para entrevistá-lo, que viveria mais de uma centena de anos. O profeta longevo, à época com 90 anos, não somente cumpriu a promessa, foi além dela.

Aniversário de 110 anos de Seu Aldegundes na AABB. 2013. Acervo: Novais Neto.
Outro morador, o mais longevo que conheci, foi Aldegundes Pereira de Castro (3/3/1903 – 9/10/2014), Seu Aldegundes, vereador inúmeras vezes e ex-vice-prefeito de Santa Maria da Vitória. Um recurso mnêmico muito usado por meu pai para lembrar-lhe a idade do amigo era dizer que ele nasceu no dia “três do três do três”, isto é, 3 de março de 1903. E não mais esqueci.

Aniversário de 110 anos de Seu Aldegundes na AABB ao lado de Marcos Athayde. 2013.
Estive presente em seu aniversário de 100 anos, como também no de 110, festejado na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB). Seu Aldegundes nos deixou aos 111 anos que, somados, também dão “três”. É muita afinidade com o número três. Não teria sido com a Santíssima Trindade? Eis o mistério!

Dona Astéria na Igreja Matriz de Santa Maria. Acervo: Maria Cláudia.
Dona Astéria, cujo nome completo é Astéria de Souza Lisboa (8/1/1906–15/11/2013), segundo informações da neta Maria Cláudia Lisboa Borba, minha inteligente e bela ex-colega ginasiana, sua avó, mãe Astéria, assim tratada, nasceu em 8/1/1906 e não 1908, como consta em seus documentos. Ela faleceu, portanto, aos 107, mês e meio antes de completar 108 anos.

Lembro-me de Dona Astéria, já acima dos 100 anos, numa Virada de Ano, na Praça do Jacaré, acompanhada de filhos, netos, bisnetos e uma legião de amigos a festejar a queima de fogos, risonha e feliz, à espera do Ano Novo, para oito dias depois somar mais um ano à centúria existência.

Ainda a lembrar de pessoas como 100 anos ou mais, outubro próximo passado, quando estive em Santa Maria, precisamente na casa de Jairo Rodrigues, ele me pediu para que levasse sua neta Iole Pergentino Borba Rodrigues ao Posto de Saúde Dr. Eliecin Bueno, no Bairro da Sambaíba, onde Norma, sua esposa, trabalha, já que ele não poderia levar-lhe de motocicleta, por que só dispunha de um capacete para si.

Claro que prontamente atendi ao pedido do amigo. E no trajeto, ao começar a subida da ladeira do Alto da Lavandeira, eis que ouço alguém me chamar:

— Novais, tenho um presente aqui para você. Vem pegar!

Capa e contracapa de CD comemorativo dos 100 anos de Seu Henrique. Acervo: Novais Neto.
Era Seu Henrique, competente músico da Filarmônica Seis de Outubro, que no mês passado havia completado um século de vida, e me ofereceu de lembrança um CD com lindíssimas músicas orquestradas e dobrados. Aproveitando o momento, perguntei se podíamos tirar uma foto, no que ele prontamente atendeu. Sem cerimônia.

Foi momento de riso quando, ao fazer uma foto dele com a neta de Jairo, ele perguntou-lhe a idade e ela respondeu que tinha 10 anos. Ao dizer-lhe que tinha 100, Iole fez uma carinha de espanto, pois acabou por descobrir que ele era 10 vezes mais velho do que ela. A esperta e bela decenária ficou sem nada entender e repetiu, desconfiada: “ceeemmm aaannnos!”.

Seu Henrique, Iole Borba e Novais Neto na frente de sua residência. Foto: Novais Neto, 2019.
Seu Henrique nasceu no dia “dezenove do nove de dezenove” (19/9/1919), ensinou-me, também, meu pai este auxílio mnemônico, para lembrar a idade do longevo amigo.

Dia seguinte a este acontecimento, sol a pino, ao sair da casa de Jairo (de novo!), na Rua dos Doidos, fomos cumprimentados por Seu Raimundo, ou melhor, Raimundo Fidélis dos Santos (15/1/1915), que passava, serelepe. Conversamos um pouco, e perguntei-lhe a idade, instigado por Jairo:

Seu Raimundo e Novais Neto na Rua dos Doidos. Foto: Novais Neto, 2019.
— Tô com 104, caminhando pros 105 — respondeu risonho. E andando.

Eu já sabia, por alto, qual era idade de Seu Raimundo. No entanto, é tão contagiante e salutar ouvi-lo repetir com tanta energia, saúde e prazer, que nos parece contraditar o que assegura a sabedoria de que “a vida é tão curta que nem chega a ser pequena”.

Salvador (BA), 8 de dezembro de 2019

Em tempo:


Faço aqui registro especial em memória de João Daniel Neves (13/10/1916–2/8/2019), filho da minha bisavó Maria Eugênia de Novais Neves, que o conheci em 1995, quando ele esteve em Santa Maria da Vitória após 75 anos de ausência, por perseguição política. Meu tio-avô era morador de Lins (SP), onde conheceu o então alfaiate Osório Alves de Castro e que lá estive, juntamente com alguns familiares, por ocasião do seu centésimo aniversário, em outubro de 2016. Ele faleceu em agosto de 2019 aos 102 anos.

Sebastião de Novais Neves (87 anos), Giovana Neves e João Daniel Neves (100 anos). Acervo: Novais Neto. 2016.
João Daniel, ou tio Lelé, como meu pai a ele se referia, foi juiz de futebol amador, são-paulino de carteirinha e um dos primeiros dirigentes do Taguatinga Esporte Clube, lá pelos idos de 1960, nos primórdios da agremiação brasiliense.

Comemoração do centenário de João Daniel Neves. Lins (SP), 2016. Acervo: Novais Neto. 2019.

Comemoração do centenário de João Daniel Neves. Lins (SP), 2016. Acervo: Novais Neto. 2019.

Comemoração do centenário de João Daniel Neves. Lins (SP), 2016. Acervo: Novais Neto. 2019.





Quem sou

Crônica da luz intermitente

Aquele teria que ser um dia muito especial, bem fora da minha rotina. Foi 1º de maio de 2024, algo bem recente, Dia do Trabalhador e dia dos...