quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Em São Félix do Coribe, Família Mallero promove o desenvolvimento da música.

Neste vídeo, a Família Mallero abre sua casa para Canexão Bahia, da TV Bahia, e a apresentadora Brisa e sua equipe mostram o que de bom, bonito e cultural pode-se ser ver neste lugar onde reina criatividade artística, música, poesia, reisado e muito mais.

Durante a apresentação do Reis de São Francisco, da cidade de São Félix de Coribe, fui convidado a declamar alguns trechos da poesia "Já vai tarde", de minha autoria, que faz parte do repertório das músicas cantadas em nossas andanças de Folia de Reis.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Quem é Irene?

Um deslize que acabou sendo motivo de muita risada no estilo da internet.

Quem já passou dos 40, 50 anos, é possível que não tenha tanta desenvoltura no manejo do computador, principalmente, da Internet, mas nem por isso fica alheio às novas tecnologias e não são, nem de longe, os conhecidos analfabetos digitais, informáticos ou cibernéticos. O que se vê, na verdade, são muitas dessas pessoas a navegar nas redes sociais ou a fazer da Internet uma potente ferramenta de trabalho.

Tive um pouco mais de sorte, porque iniciei, há alguns anos, ainda no tempo de bancário, minha inclusão informática e, hoje, por isso mesmo, tenho relativa facilidade no mundo cibernético. Entretanto, ainda dou minhas mancadas, principalmente, quando o assunto é bate-papo em redes sociais.

E por falar em rede social, resisti quanto pude para não me associar a alguma delas. Resisti, mas cedi à tentação. E, até o momento, não tenho do que reclamar. Usando-as com parcimônia e o devido cuidado, creio que não se tem muito o que temer. Cedi, portanto, aos encantos do “livro de caras”  numa tradução literal , o tão propalado e conhecido Facebook.

Dia desses, “conversando” com uma amiga residente em Goiânia, digitava meus textos sem usar abreviações, mesmo porque não sei, e a tratar nosso idioma com relativo cuidado. No entanto, tive uma surpresa. Minha amiga, que se utilizava de palavras abreviadas e teclava descuidadamente, desabafou:

   ai meu Deus q vergonha… q mico to pagando… vc escreve td taum certinho… e eu aki catando milho… rsrsrs.

Tentei explicar para ela que não se preocupasse e continuasse a digitar do seu jeito, é que eu ainda sou do tempo dos cursos de datilografia com direito a diploma (tenho dois!), uma foto 5×7, beca e boina, e não aprendi ainda as “modernidades da comunicação”, via Internet. Mas não houve jeito. Ela simplesmente desconectou e eu fiquei a ver navios, desolado.

Escola Santa Rita de Cássia (1973), de Celi Dalva Morais, e Escola "Jofer de Datilografia" (1976), de Zé de Paula.

O que me restava, então? Corri atrás de ajuda, lógico. Procurei alguém que não conheceu a máquina de datilografia, porque já nasceu na era dos computadores, dos celulares, e poderia certamente me auxiliar. Esse alguém foi minha filha adolescente, Lara, à época, com 15 anos.

Contei a ela minha história, que riu muito da minha cara, e me passou uma lista de abreviações e aquelas combinações de sinais parecidos  grosso modo  aos ideogramas chineses. Muitos deles são verdadeiramente criativos, outros nem tanto, como, por exemplo: dois circunflexos ^^ significam “feliz”; um sinal de igual, um apóstrofo e um abre-parêntesis ='( querem dizer “chorando de tristeza”; uma barra invertida, um ó minúsculo e uma barra \o/ expressam um “vivaaa!!!”, e aí por diante, pois há uma infinidade delas.

Além dessas combinações de sinais ou letras, Lara me passou algumas abreviaturas mais utilizadas: blz (beleza); vlw (valeu); S2 (coração); sdd (saudade); ado/ada (namorado/namorada), e muitas e muitas outras.

Agora, mais confiante, já me achando um moderno taquígrafo cibernético, entrarei em alguns bate-papos, e eis quem encontro, para minha alegria: Vitalmiro Matos, o Carranca, filho de uma conterrânea, de quem há muito não tinha notícia, agora, morador das Américas. E ao perceber que ele estava online, dei sinal de vida, no tradicional mesmo, sem aquelas abreviaturas:

 Olá, meu querido amigo Carranca, tá onde, agora, figura? Como vai?  e ficamos ali, trocando palavras num infindo converseiro informático. Que maravilha! Tudo ia muito bem.

Era noite, bem na hora do Jornal da Band, que estava a noticiar um abalo sísmico ocorrido na Costa Oeste dos Estados Unidos, no final de agosto de 2011, quando quis saber se ele havia sentido a terra tremer por lá.

 E aí, Carranca, esse terremoto que a Band está noticiando aqui, neste momento, aconteceu perto de você?

 Não, não. Graças a Deus, não. Só que tô indo amanhã para Carolina do Norte e tô muito preocupado é com Irene.

 Quem é Irene, rapaz? É sua mulher? Sua filha? Quem é essa figura?

 Não, rapaz, Irene é o nome do furacão – e tascou uma ruma “rs” e “kkk”.

Sem saber o que dizer, restou-me comemorar meu fora, minha gafe, “pagar meu mico”, como se diz modernamente, e continuar o bate-papo bem mais descontraído, a sorrir da minha ignorância ou desatenção, sendo mais ameno:

 Também, né, uma mulher furiosa dessa, quem vai querer?  não perdi a pose e mandei de volta outros “rs” e “kkk”  não sei quantos , querendo dizer que dei uma estrondosa gargalhada, nem mesmo sabendo se é assim que funciona esse troço. Isto é, quanto mais “rs” e “kkk”, o sorriso vira riso, que vira gargalhada, gaitada, frouxo de riso… E eu sei lá mais o quê!

Despedimo-nos com outros tantos “rs” e “kkk”, prometendo a ele que o episódio certamente iria render uma comemorativa crônica, que agora estou a pagar-lhe com hiperbólicas gaitadas. E tudo mais, somente para desopilar o fígado.

Salvador (BA), setembro de 2011.
__________
Obs.: Crônica publicada no site Matutar Notícias em 24/7/2017. Disponível em: <https://www.matutar.com.br/arte-e-cultura/cronica-de-novais-neto-quem-e-irene/>.

domingo, 24 de fevereiro de 2019

A história da construção da Barca do Tamarindeiro - Santa Maria da Vitória - Bahia

Se você é de Santa Maria da Vitória, tem alguma história para contar na sombra do Tamarindeiro do Rio Corrente. Você sabia que a barca foi construída para proteger à árvore centenária. Confira o documentário produzido por Matutar Notícias sobre esse patrimônio histórico e cultural de nossa cidade.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

Canto da Mãe da Lua - Família Mallero (clipe)

Produção e direção: Chico Mallero; Filmagem e fotografia: Naza - Beez Estúdio Criativo; Edição: Cleudir Neves - Proa Sonora; Edição Gráfica: Sandra Carvalho; Letra e música: Genilton (Gena); Interpretação: Família Mallero; Ana Helena Bomfim - Voz principal; Ícaro Mallero - Gaita, voz e violão; Arinca Mallero - Flauta e voz; Chico Mallero - Flauta e voz; Convidado especial - Novais Neto; Estúdio Phonográfico - Dada (Coribe); São Félix do Coribe - BA Brasil - Fev. 2019.

Reis de São Francisco - São Félix do Coribe (BA) - Apresentação em Salvador (BA) - Nov.2015

Apresentação do Reis de São Francisco, de São Félix do Coribe (BA), no Espaço Cultural da Barroquinha e nas ruas do Pelourinho, Salvador (BA), dia 27/11/2015.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Praça do Jacaré depois da enchente - Santa Maria da Vitória - Bahia - Jan.2016

Dia 23/01/2016, pela manhã, o Rio Corrente já estava no seu leito, depois da enchente, mas a Praça do Jacaré era formidável lamaçal.

Riacho de Santa Maria da Vitória (BA) - Enchente - Jan.2016

Riacho de Santa Maria da Vitória, que divide a cidade em Rua de Cima e Rua de Baixo, quando saiu do seu leito em 22/01/2016, o que normalmente acontece depois de chuvas na sua cabeceira.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Matemática ultra-romântica - FLIT SAMAVI-BA 2018

Durante a realização da FLIT SAMAVI 2018 (Santa Maria da Vitória), Magna Reis, professora de Matemática, pediu-me para declamar Matemática Ultra-romântica, depois, fez esta postagem, pelo que agradeço imensamente.
Salvador (BA), 20/2/2019.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Homenagem a Nery Neto – Saudades da Bahia

Genésio, Genesinho ou Nery Neto foi o primeiro santa-mariense a gravar um disco, pelo menos do meu conhecimento (se estiver errado, corrijam-me, agradeço). Sempre estivemos muito próximos: jogamos no mesmo time, o Fluminense de Saulo e Batista, nas décadas de 1970 e 1980, ou na Casa do Estudante, onde ele gostava de aparecer. Genesinho morava da Rua de Cima, acho que na Vila Formosa.
Salvador (BA), 2/2/2018.

Homenagem a Kátia Castro pelos seus 30 anos de música

Participação de Kátia Castro, Luiz Castro e Cibele Tedesco no lançamento de "Flutuando na Areia", de Novais Neto (livro incluído no roteiro da novela Tieta, da Rede Globo), na sede da Philarmônica Seis de Outubro. Santa Maria da Vitória (Bahia, Brasil), 28/10/1988.
Santa Maria da Vitória, 2/7/2016.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Matemática ultra-romântica declamada por João Dacosta

Beremiz na Terra Plana

Luzia Paramés volta a fazer uma abordagem à Matemática numa encenação que parte de textos de Edwin Abbott, Malba Tahan, Novais Neto, Clarice Lispector, André Hemerly, Millor Fernandes e António Cabrita e fala de tempo, música, infinito, poder e até mesmo de deus.

Produção: Produções Acidentais; Encenação: Luzia Paramés; Actor(es): João Dacosta, Carla Costa, Luzia Paramés; Dramaturgia: Luzia Paramés; Sonoplastia: Sandro Esperança; Desenho de luz: Sandro Esperança.

(Disponível em: <http://lazer.publico.pt/pecasdeteatro/354800_beremiz-na-terra-plana?fbclid=IwAR2fqMKNEgKPAi-_tqQYObMD1-EEbixO3UNdjgdMF_Ib7I6iQ5_WUwIiulA>. Acesso em: 19/2/2019.)

Philarmônica 6 de Outubro - 107 Anos - Santa Maria da Vitória - Bahia

Comemoração pelos 107 anos de existência da Philarmônica 6 de Outubro, na sede da mesma. Um evento para não ser esquecido. Quantas e quantas vezes, quando menino, acordava às 5 da manhã ao som dos dobrados executados na famosas alvoradas.

Hoje, felizmente, ainda acontece, somado aos sons da Lira do Corrente, nova e não menos grandiosa filarmônica, também orgulho de nós santa-marienses. Parabéns a ambas!

Santa Maria da Vitória (BA), 6/10/2015.


domingo, 10 de fevereiro de 2019

Pensamentos e Reflexões

Disponibilizo, nesta página, alguns pensamentos e reflexões publicados nos meus dois primeiros livros: Flutuando na Areia (1988) e Ave Corrente (1992), para apreciação dos leitores.

Flutuando na Areia

     Existem infinitos motivos que me fizeram lembrar o teu aniversário. Um deles, pelo menos, é inegável: nunca me esqueci de ti.
    Não pretendo ser resposta, a interrogação é um bom princípio.
    Se alguém te amar mais do que eu e, de presente, te der o mundo, este alguém é ladrão e vigarista. Ladrão porque me roubou; vigarista porque te iludiu, presenteando-te com algo que já era teu.
    Vingar-se de um amor é sofrer por orgulho.
    Sufocar um amor que assenta bem é pior que amar a pessoa errada.
    Ser mãe é ser tanta coisa, que nem sei o que dizer, agora. É fazer da lágrima o sorriso franco; do relento o teto; da fome o alimento; do nado o tudo. Ser mãe... Será que existe missão mais sublime?
    “Mulher é a mais bela encenação do amor: às vezes tão dramática que nos causa sofrimento. Quase divina que é sempre perdoada”.
    Se amar é viver, por que então eu amo e não vivo? Amar é sentir a presença e não viver de fantasias. Quando se diz que um verdadeiro amor na longa ausência se prova, esquece-se, no entanto, que provar não é viver. Melhor seria viver um grande amor sem nunca ter que o provar.
    Permita-me dizer-lhe algo muito confidencial: gosto muito de você, não importa se gosto de outra, tá?!
    Esta vida é uma tremenda gozação, pois eu queria muito ter você, queria muito mesmo, mas alguém diz que não, e... eu atendo.
    Hoje me vejo só, embora veja tanta gente (só) ao meu redor.
    Deixe-me sonhar, flanar, um dia cairei das nuvens... E daí?
    Tenho sido muito romântico e amado muito pouco.
    Existem momentos na vida que uma eternidade dura menos que um mísero segundo e, aí, talvez, resida o belo e fascinante mistério do tempo.
    PENSAR em você, pensar que já fomos UM, é tão bom, tão romântico e relaxante que quase sempre me esqueço de mim mesmo.
    Diante de tantos atalhos e a consequente distância deixada, restou-me o consolo da poesia e a certeza de que te amo muito.
    Do mesmo modo que a crítica mordaz pode levar alguém à sarjeta, o elogio demasiado e descabido pode corromper um líder.
    Um dia no futuro deixarei esta vida material e passarei à memória daqueles a quem lhes sou caro, apesar de você que ainda não me viu... e nem verá. Ou se vê, ignora.
    Fazer tudo no antetempo é pôr o antes depois do depois; é marcar-passo. O depois é o agora. O antes é o depois que se tornou agora e já passou.
    Fazer tudo extemporaneamente é pôr o depois antes do antes; é antecipar sofrimento. Não vê que basta a ansiedade de agora, para que juntá-la ao depois? Tudo vem no tempo certo, pela própria força do “há de vir”.
     “Me dá um tempo” é o binômio esperança-desespero que, no momento feliz, dá a luz e na angústia vira treva. “Me dá um tempo” é o prelúdio da saudade que antecipa a dor do “não dá mais”.
     A distância que nos separa não é tão grande, mas o silêncio tem sido maior.
     Não existe coisa mais linda do que uma lágrima de saudade nos olhos de uma mulher amada.
     O silêncio, por vezes, dói infinitamente mais do uma ofensa.
     Dentre as palavras que o Silêncio traduz, uma delas me diz: adeus.
     A lágrima da saudade é o coração chorando pelos olhos.
     Meu coração é um mar velejado pela saudade que sinto de você.
     Flanar é o sublime direito de, na saudade, encontrá-la sorridente, meiga e só minha.
     Minha mãe: uma heroína que da lágrima faz o sorriso; da saudade faz o conforto; do amor fez-me filho.
     Meu amor: Tive, não tenho, terei. – Solidão que a saudade me traz. – O sonho gravado numa fita do tempo.
     Quem sofre por um amor não é fraco, é gente, pois nem todos têm coragem para tanto.
     A felicidade é uma coisa que nem sempre a encontramos onde supomos que esteja. Por caminhos tortuosos, às vezes, trilha, mas seu destino é certo.
     O amor é, às vezes, o mais ingrato dos sentimentos do homem. Nem sempre aquela a quem amamos, somos dela o seu amado.
     Se me visses com meus olhos, ver-te-ias como és linda, sobretudo, importante. Entendeste?
     Saudade é a lembrança do amor que um dia vivemos e agora se foi.
     Amar-te é ter-te nas horas tristes e nos minutos felizes.
     Esta é a gradação do amor: Viu... Flertou... Gostou... Tentou... Amou... Venerou... (este é o fim que os desencontros impedem).
     Quanto tempo será necessário para largares esse orgulho e descobrires o óbvio? Eu Te Amo.
     Se nos meus versos vês incoerência, a justificativa para mim é bem simples: eles são o produto do infindável confronto entre a razão e a emoção, prevalecendo, entrementes, ora uma ora outra.
Ave Corrente
         Ansiedade é o que habitualmente faz acontece: ler o epílogo antes do prefácio.

     Epílogo é o que se lê primeiro. Prefácio, nunca.
     “Eu te odeio” é uma “declaração de amor” ao desamor.
     Um “Eu te amo” verdadeiro incomoda porque o tiraram dos corações.
     Amar é uma multiplicação que sempre deveria dar Um. Ou Três!
     Amar é dividir o indivisível.
     Se és sombra, és também a fotofobia.
     Sou a sombra... Sou a fotofobia.
     O que me amedronta não é a escuridão. É a ausência da Tua luz.
     Meu sonho só acordou porque sua realidade sofre de insônia crônica.
     Diante de tanta desgraça em nossos dias, um sorriso é mais questionado do que a própria lágrima.
     É na comunicação muda do amor que a linguagem se torna mais eficiente.
     Não é a distância que de ti me separa, é o silêncio.
     Muitas vezes nem sei qual o pior: se sua ausência ou sua presença em minha vida, apesar de tudo.
     Meus sonhos com você são de um realismo tão intenso que muitas vezes chego a pensar que a realidade é que é um sonho.
     Quantas vezes viajei fundo na irrealidade dos meus sonhos que, cegamente, acreditei: o sonho é minha própria realidade.
     Enquanto o orgulho for mais forte que o perdão, a felicidade tão sonhada ficará apenas na retórica.
     Quanto mais te vejo, mais distantes ficamos um do outro. Dá para entender?
     Uma palavra diz muito... um gesto diz mais... um verso diz muito mais ainda. Um verso é a prática simples da palavra.
     O dia em que o riso revelar o verdadeiro estado de espírito de alguém, neste dia, a lágrima será o próprio emblema da sinceridade.
     A energia que do teu ser emana é tão contagiante e tão dominadora que muitas vezes me sinto submisso. Urge dizer, entretanto, que se trata de submissão saudável e não subserviência.
     Quando um homem se encontra num verso – o mais ingênuo ou simples que seja – ele é capaz de encontrar-se consigo mesmo.
     Em lugar que questionar tanto o meu sorriso, não será mais humano destruir as causas de quem chora?
     Trabalhador brasileiro: cordeiro de Deus que paga os pecados do imundo.
     Futebol – Copa do Mundo de 1986: Brasil, encanto do mundo e desencanto de seu povo.
     Não é por medo de sofrer que deixarei de te amar. É por dar razão à própria razão.
     Felizes são aqueles que não confiam plenamente em alguém, porque assim correm menos risco de uma decepção.
     Pense nisso: o silêncio não é a solução. É problema. Ou, no mínimo, preocupação.
     O ciúme é uma doença que se nutre do resíduo de si mesma.
     Quando um verso fala, a palavra cala. Quando uma mulher fala... o mais sensato é pensar. Ela pode dizer coisas belas na forma de um sonoro “não”.
     A mulher é a própria poesia: subjetiva e concreta. Depende apenas como os olhos de cada um a vê.
     Uma palavra quando diz o suficiente para sensibilizar nossos ouvidos, certamente, não é somente uma palavra... é um verso.
     Somente agora entendi: o que de melhor aconteceu entre nós, foi nada ter acontecido.
     Se alguém disser que te ama mais do que eu, não faz mal. Dizer qualquer um pode, inclusive “esse alguém”, mas provar, ninguém o faz melhor do que nós.
     Do meu coração partem infinitos caminhos, mas um – e somente um – é o caminho do amor.
     Se entre nó existe amor, ele se assemelha a triângulos opostos pelo vértice: tem a mesma origem, mas “direções” diferentes.
     Filosofia de vida de um machista extremado: prefiro mil vezes ser “filial” a ter “filial”.
     Quantas e quantas coisas lindas nascem de um peito em prantos, amparadas entre o silêncio e um grito de desabafo. O contrário, necessariamente, não corresponde à verdade se for, de fato, pautado na sinceridade das palavras.
     O silêncio é quase sempre o único eco capaz de atingir forte e decididamente a mais distante solidão.
     Não te prometo o céu num me julgo capaz de tirar-te do inferno. Mas... juro, farei tudo (até, se possível for, o impossível) para que ao meu lado não te sintas entre o céu e o inferno... te sintas feliz... te sintas comigo.
     Aquela poesia (A mulher que passa) só existe porque, diante da minha janela, você sempre passa, graciosa e bela. Um dia, no entanto, percebi (nem sei como) que meu poema nada mais era senão uma ficção. Mas você continua a passar... e passou!
     Solidão é a imensurável distância entre o corpo e a alma. É algo que cresce ininterruptamente que por vezes procuramos – num toque inconsciente – nossa própria pele... e ela não está.
     Que ironia, meu Deus! Como poderia imaginar que quanto mais apressava os passos para buscar seu encontro, mais próximo eu ficava do fim! Quando disso me fiz consciente e, sabendo que o espaço e o tempo não me permitem recuar, diminuí o ritmo, porque assim fico mais próximo do começo, o que me dá direito de recomeçar e buscar a felicidade que está à frente, em cada rosto perdido na multidão.
     Sonho e realidade são situações que, quase sempre, se conjugam. Querer delimitar o fim de um sonho e o limiar da realidade é, em tese, um pesadelo.
    Quanto mais passa o tempo e miramos, consciente e friamente, a realidade que um dia nos cercou, percebemos que nossas diferenças já eram bem maiores do que as percebidas por nossos sentidos empanados.
    Enquanto teu orgulho aniquilar a reação do mais tímido desejo de perdoar, nunca haverá motivos para crescermos juntos. Nunca poderemos partilhar do mesmo ideal, da mesma alegria, da mesma tristeza... da vida!

Trovas


Rua do Trovador - Engenho Velho de Brotas - Salvador - Bahia
Neste ano de 2019, completo 20 anos como membro da União Brasileira de Trovadores (UBT), Seção de Salvador que, por sua vez, completa, no dia 26 de abril de 2019, 50 anos de fundação na capital baiana, da qual sou Relações Públicas. Quem me apresentou esta confraria, aliás, quem me deu este presente foi sua atual presidente, Dorothy Miranda de Oliveira Andrade, magistral trovadora, que muito me ensinou sobre Trova, e da qual me apaixonei, pela beleza de forma e conteúdo que ela encerra.

A trova acadêmica, que é a praticada por nós, ubetistas, tem apenas 4 versos em 28 sílabas poéticas, a rimar perfeitamente na forma alternada (AB/AB), o que lhe dá infinita beleza. E mais: a trova não possui título e deve ter sentido completo, isto é, princípio, meio e fim. A trova é considerada o menor gênero literário da Língua Portuguesa, que atravessou mais de oito séculos e continua a nos encantar.

Assim, deixo para apreciação dos leitores, minhas trovas de amigo, de amizade, de amor, humorísticas, filosóficas e até mesmo satíricas. Espero que as aprecie, pelo que agradeço.

Quando olho para o Infinito,
me sinto tão diminuto,
que seria um delito
negar Deus Absoluto.

"O futuro a Deus pertence"
e logo será passado.
O presente me convence
que devo estar a Teu lado.

Não há amor por sentença,
mesmo passada em julgado,
porque amor é a crença
do coração namorado.

Minha amada é como a tarde,
parte mais quente do dia.
Se ela me toca, a pele arde;
se não toca, a pele esfria.

As mãos não sabem falar,
dizem através de gestos:
palavras tantas, sem par,
adeus, aplausos, protestos.

Não sei o que mais clareia
este mundo de meu Deus,
se o brilho da Lua Cheia
ou a luz dos olhos teus.

Num sonho meu, certa noite,
vi você, linda e risonha.
Tão real foi o meu sonho,
que acordei beijando a fronha.

Fiz trova de "pé quebrado",
consultei o ortopedista,
que me disse, assustado:
"sou doutor, não sou artista".

Ao brigar com meu amor,
sem fazer qualquer alarde,
sussurrei-lhe: "vou-me embora".
Ela disse: "já vai tarde".

Sei lá? Homem é tudo igual.
Disse ela, para meu espanto.
Se, de fato, isto é real,
por que então escolher tanto?

Nossas idades, lindinha,
são bastante desiguais.
Foi minha mãe apressadinha
ou a sua, lerda demais.

Saudade é minha vida,
saudade de coisa tanta,
tanta saudade sentida
da saudade que me espanta.

Que a Paz seja hiperbólica,
infinita e muito prática.
E a guerra, sempre simbólica,
eternamente, estática.

Respeita a velocidade,
essa amiga traiçoeira.
Se te causa liberdade,
pode ser a derradeira.

Links de sites e blogs

Nesta página, disponibilizo links de sites e blogs que publicaram escritos meus e/ou a mim se referiram, para eventual consulta e/ou leitura.

Academia de Letras do Brasil (ALB) - Seccional Bahia
Recanto das Letras
Correio da Bahia
Beremiz na Terra Plana - 19ª Mostra de Teatro de Almada 2015 - Portugal
Beremiz na Terra Plana - Produções Acidentais - Agradecimentos - Portugal 
Matutar Notícias
Blocos Online
DOCPLAYER
Centro de Documentação e Pesquisa Vergueiro
Poetas de Correntina - Flamarion A. A. Costa e Outros
CSFX
Marcos & Nunes - A dupla das notícias
Associação dos Servidores em Trânsito e Transporte do Município (ASTRAM)
Sindicato dos Bancários da Bahia

Os contrastes santa-marienses

Por Novais Neto, santa-mariense, trineto do Ten. Cel. Joaquim Affonso de Oliveira, fundador de Santa Maria da Vitória, Bahia, Brasil.

Santa Maria da Vitória, que completará 109 anos de emancipação político-administrativa em 26 de junho próximo, é uma aprazível cidade localizada na mesorregião do Extremo Oeste baiano, à margem esquerda do Rio Corrente, afluente do São Francisco que, nos seus primórdios, já foi chamada Porto das Lavadeiras.

Primeiro cais da cidade, que era bem mais baixo, no início do século passado.
No final do século XVIII, por volta de 1782, o fidalgo português e padre egresso da Igreja Católica, André Affonso de Oliveira, desbravador do sertão baiano e pai do fundador da cidade, Ten. Cel. Joaquim Affonso de Oliveira, aportou às margens do Rio Corrente. Porém, em virtude de surtos de impaludismo advindos de pântanos e lagoas situados entre o rio e o Morro do Menino Deus, mudou-se para os confins de suas terras, dando-lhe o nome de Espírito Santo, onde ergueu uma Capela. Por lá, faleceu e está sepultado.

Seu filho, o Ten.-Cel. Joaquim Affonso de Oliveira, por desavença política com a Província, em virtude de não ter conseguido elevar à categoria de vila seu povoado, desgostoso, regressou para a sede da Fazenda Porto, propriedade familiar, às margens do Rio Corrente, e a renominou Porto de Santa Maria, que foi doada, para tornar-se futura sede da atual cidade.

Anos mais tarde, depois de ter ido a terras lusitanas, trouxe consigo uma imagem de Santa Virgem da Vitória, quando o lugarejo foi rebatizado Porto de Santa Maria da Vitória. Entretanto, em 26/6/1909, a então vila, foi elevada à categoria de cidade e passou a chamar-se tão somente Santa Maria.

Posteriormente, já no ano de 1943, por existirem outras cidades com a mesma denominação, cogitou-se renominá-la Correntânea ou Samaria. Seu povo, contudo, não aceitou as sugestões e acrescentou-lhe apenas “da Vitória” após o nome de Santa Maria, que permanece até nossos dias. Felizmente!

Vista de Santa Maria da Vitória a partir de São Félix do Coribe. Ao fundo a primeira Igrejinha que ficava bem mais à frente da atual, onde fica atualmente o conhecido minhocão.
Em Santa Maria, como simplesmente a chamamos, há um riacho periódico que desemboca no Rio Corrente, na sua margem esquerda, dividindo a cidade em dois setores. O que fica à margem direita da nascente do riacho, batizaram-no Rua de Cima, ao passo que Rua de Baixo fica situada na margem oposta do riacho, à esquerda.

Até aí, tudo seria absolutamente coerente não fosse um belo capricho da natureza, ao dar para o relevo local, características, por certo, singulares. A Rua de Cima está na parte baixa e, na parte alta, fica a Rua de Baixo. É certo que os nomes foram dados tomando-se por referência o sentido do rio. No entanto, os menos atentos dificilmente percebem este detalhe.

E ainda por conta do sentido que corre nosso rio, o atual Tamarindeiro, o da Barca, é chamado pelos mais antigos, como meu pai, Tião Sapateiro (88 anos), de Tamarindeiro de Cima. E aí vem a inevitável pergunta: e havia outro tamarindeiro? Havia, sim, chamado Tamarindeiro de Baixo, que ficava no fundo da casa de Manuel Bodeiro, onde é atualmente o Jardim Fifa, em frente à Associarte Santa Maria, na Rua de Baixo. Ainda guardo lembrança dele.

A comungar com esta aparente incoerência histórica, existem outras que são hilariantes, principalmente, os apelidos que têm alguns dos seus distintos filhos, naturais ou adotivos. Por exemplo, a um legítimo representante da raça negra, deram-lhe o nome de Zé Leite, enquanto alguém de cútis branca (como registravam as antigas certidões de nascimento), chamam-no Pretinho. O mesmo vale para Negão do PT, que é branco. Já um cidadão bem grisalho atende pelo generoso cognome de Nenezinho, quando, por outro lado, uma figura jovial admite que o chamem Veio. Da mesma forma, Menininha e Meninão, há muito tempo, deixaram de ser criança.

Vista antiga da Praça do Jacaré, quando este nem existia, no início do século passado.
Ainda seguindo esta linha de contradições, Em Paz era a alcunha de um dos seus filhos adotivos que não costumava “levar desaforo para casa”. Já Guerra e Guerrinha, esses são da paz, nem de longe os apelidos e suas ações se conjugam. Eles são inimigos de confusão.

No ano de 1989, surgia para o Brasil, em Alagoas, um “fenômeno” na política nacional, o carioca Fernando Collor de Mello, autointitulado o “caçador de marajás”, que se tornou o 32º Presidente do Brasil, de 1990 até renunciar em 1992. Em nossa Cidade Riso, como também ficou conhecida Santa Maria, havia um marajá, caçado por Collor, que não negava o apelido nem a origem:

— Sou Zé Marajá e não tenho medo desse caçador meia-tigela.

Só que esse Zé, de saudosa memória, cuja esposa não é marani, nem ele, o marajá caçado pelo o ex-presidente. Trata-se, na verdade, do agropecuarista José Moreira da Silva, ex-barqueiro, ex-vereador da cidade, quando nem se recebia salário pelo cargo, por isso mesmo a concorrência era bem menor. Seu apelido adveio da Barca Marajá, de sua propriedade.

E Anjo? “Este não tem nada a ver com o ente celestial”, diriam muitos. Por esta razão, acrescentaram-lhe o adjetivo “Mau” e ele se tornou Anjo Mau.

Além dos aparentes contrastes, soma-se o fato de ser Santa Maria da Vitória uma cidade “internacionalizada”, dada a variedade de pessoas com nome de países, tais como: Argentina, Israel, Zaire, Quênia, Irã e Iraque.

Para completar este sui generis quadro de antíteses, o primeiro morador da Casa Paroquial, quando esta ainda estava em construção, na década de 1960 do século passado, foi o Velho Cão, um mendigo, amigo de Jesus Ferreira da Silva, trabalhador rural e fazedor de adobe, conhecido por Velho Jesus. Creiam-me!

Santa Maria da Vitória (BA), junho de 2018.

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(Crônica extraída do livro “Meu Lugar é Aqui no Centenário de Santa Maria da Vitória, 2009, p. 31”, revista e ampliada especialmente para o 109º Aniversário de Emancipação Político-Administrativa do Município de Santa Maria da Vitória, com algumas informações colhidas de Hermes Novais Neto, meu irmão, licenciado em História. Esta crônica, a original, também pode ser lida no Recanto das Letras – <https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/2173639>. – onde há alguns comentários interessantes, inclusive da escritora gaúcha, Maria Della Giustina, que é da cidade de Santa Maria-RS).
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Obs.: Crônica publicada no Matutar Notícias em 14/6/2018. Disponível em: <https://www.matutar.com.br/arte-e-cultura/os-contrastes-santa-marienses/>.

sábado, 9 de fevereiro de 2019

Ave Corrente

Nosso (ainda) belo e majestoso Rio Corrente pede socorro, pois já não é mais aquele da minha geração e gerações anteriores, e a palavra "corrente" vai perdendo seu sentido. 

Rio Corrente (esq. e adiante), Rio Formoso (dir.), Ilha da Posse (foz do Rio Formoso) e Ilha do Canta-Galo, mais abaixo. Informações: Hermes Novais. Foto: Dão Serpa.

A poesia Ave Corrente foi escrita em 1990, quando da realização da X Semana de Arte e Cultura de Santa Maria da Vitória. Ela está na página 77 do livro, de minha autoria, e de mesmo nome.

Nos seus versos, faço uma viagem poética através do nosso majestoso Rio Corrente, não este que já se encontra assoreado e a pedir urgente socorro, mas o rio das décadas de 1960 a 1980, da minha geração e gerações anteriores, quando ainda se tomava banho e pescava em toda a extensão do cais, no porto de Seu Zome, na rampa de pedra, que serviu de porto por muitos anos, onde as mulheres lavavam utensílios domésticos ou "trens", roupas e as estendiam para quarar ao Sol na grama das Pedrinhas. 

Novais Neto e Silma Álvares. Porto do Jardim Fifa. Rio Corrente. Década de 1980.
Logo a seguir, vinham os extintos Banheiros dos Homens e dos Urubus. Neste último, era onde se tratavam vísceras de animais, o que atraía tais aves, daí o nome. Depois, Pedra Branca e Poço Fundo,  e mais adiante, o Banheiro das Raparigas, local frequentado pelas mulheres dos outrora famosos bordéis santa-marienses: Pingo d’Água, Pingo de Prata e Pingo de Ouro. 

Mais abaixo, ainda perdura o porto da Sambaíba, onde meu pai, Tião Sapateiro, tinha um curtume, e lá também se tratavam vísceras de animais abatidos no Matadouro Municipal, o triste e horrendo Curral da Matança, como era mais conhecido, do qual trago lembranças não muito boas. 

E, por aí vai Ave Corrente e o nosso ainda belo (e agredido) Rio Corrente nos versos da poesia, até encontrar, na cidade de Sítio do Mato (BA), o seu destino, o Rio São Francisco, o Velho Chico, igualmente maltratado e sofrido. Confiram. Muito obrigado.


Tamarindeiro durante a enchente de 1988, quando ainda não existia o barco de pedras. Foto: Novais Neto.
Ave Corrente

E lá vem ele...
Elegante, límpido, assombrosamente belo,
Deixando atrás de si um cenário de beleza,
Uma certeza de vida.
Silencioso, calcário, trazendo de tudo,
Inclusive uma grande ameaça:
A temida endamoeba histolytica.
Mas nem isso faz medo. Ele é majestoso,
Contraditoriamente, saudável, caudaloso.

E lá vem ele...
Sofrendo agressões, terríveis maus tratos.
Envenenam suas águas, sufocam-no o grito,
Desnudam-lhe as margens... a nascente,
E ele parece indiferente.
Engano puro! Espera apenas por um instante
Para mostrar sua fúria.
E aí, paga o pecador, paga o justo
E dá um tremendo susto
No nosso Tamarindeiro,
Mas, ainda assim, proporciona
Um espetáculo de força e beleza,
Quando sai do seu leito,
Que não é de morte,
E se põe vitorioso a bailar...
Muitos vão dançando, levados pelo
Embalo fatal da força da correnteza.
E aqueles que o desafiaram... Coitados!
São fracos, não podem com a Natureza.

E lá vem ele...
Tranquilo e profundo, exaltando o poder,
O ímpeto da juventude, e para trás
Vão ficando nomes pitorescos, originais,
Exóticos: Canta-Galo, Pedreiras e o Porto
Que virou Santa e trouxe muitas Vitórias.

E lá vem ele...
Fazendo amizades, procurando intrigas,
Molhando a terra, construindo banheiros:
Dos Homens, dos Urubus, das Raparigas.
Contorna a pedra, a Volta da Pedra.
Cria portos: Porto Novo, Cana-Brava.
Antes, dá um toque no Domingão
E, quando olha para trás...
Já cumpriu sua missão.
Agora... É só dormir
No peito do Velho Chico.

E lá se foi ele...
Não é preciso mistério porque,
Apesar dos seus contrastes,
Ao lado da Santa ele corre rente,
Louvando a vida, fazendo esperança,
Deixando a marca do Rio Corrente!

(NOVAIS NETO. Ave Corrente. 2. ed. Salvador: Multipress, 1990, p. 77. 120p.)

Ilha do Canta-Galo. Foto: Rosa Tunes. 2013.

Morro do Domingão. Santa Maria da Vitória (BA). Foto: Novais Neto. 2013.

Porto da Cana-Brava. Santana (BA). Acervo: Adson Oliveira. 2018.


Porto Novo. Santana (BA). Acervo: Beto Murmúrios. 1996.

Encontro do Rio Corrente com o Rio São Francisco. Foto / Reprodução: Dêniston Diamantino. 2021

Encontro do Rio Corrente com o Rio São Francisco. Foto / Reprodução: Dêniston Diamantino. 2021


Referências:

DIAMANTINO. Dêniston. Rio Corrente até a foz no Rio São Francisco (vídeo). Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=x172kXR7_I4>. Acesso em: 7 set. 2021.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Senhores ouvintes

Nesta crônica, relembro os antigos serviços de alto-falantes, seus locutores, suas gafes e os causos pitorescos, como também os famosos dramas de Seu Iozinho e seus artistas.

Dia desses, movido certamente pela saudade, flagrei-me a rememorar os serviços de alto-falantes que muitas cidadezinhas do interior ainda aprazem em tê-los, e que Santa Maria da Vitória apenas confirma a regra, o que resultou na escrita desta crônica reminiscente. 

Quando os sinais de televisão não haviam chegado àquele distante parnaso, quando nem se sonhava com emissora local de rádio, as programações daqueles veículos de comunicação eram levados ao ar em horários predeterminados, normalmente, às 10 e às 4 horas da tarde. 

Não estão tão distantes assim esses acontecimentos. Há mais ou menos 40 anos, eles ainda proliferavam. Ficavam em lugares altos onde os sons emitidos pudessem conciliar maior raio de abrangência e audição satisfatória. Em Santa Maria da Vitória, esses veículos eram instalados no Alto do Menino Deus e nas Praças do Jacaré e da Bandeira.

A puxar um pouco pela memória, quem não se lembra de Jason Queiroz, de esmerado português, com seu vozeirão inconfundível, a informar a hora certa com a precisão do mais moderno digital, muito embora o relógio que ostentava era mecânico, tradicional, certamente um vistoso Megalo:

Câmara de Vereadores: Jason Queiroz, ministro Rangel Reis, vereador Aldegundes e o prefeito Tito Soares.
Foto: Reprodução / Revista Barreiras em Foco, n. 20, ano 1978, p. 34. Acervo: Novais Neto
Jason Queiroz.
Acervo: Idalmar Queiroz.

— Na cidade que mais cresce no Sudoeste [isso mesmo] baiano, são precisamente: 17 horas, 59 minutos e 59 segundos. Ouviremos, agora, a Hora do Ângelo – e ouvia-se então em todos os cantos da cidade a belíssima Ave Maria, de Franz Schubert, pelo magistral trompete de Al Korvin. 

Outro personagem inimitável na comunicação santa-mariense é o autodidata Flávio Bonfim que, com sua voz clara, cadenciada e firme, assim começava seus programas diários: 

— Com este prefixo musical [Tema de Lara], vai ao ar o Serviço de Alto-Falante a Voz de Santa Maria da Vitória, numa programação de músicas e gravações selecionadas. Senhores ouvintes, bom dia! 

Ou ainda, em edição extraordinária, para dar nota fúnebre que, invariavelmente, terminava com este agradecimento: 

— A família enlutada agradece a todos por este ato de caridade e fé cristã! 


Banda The Jovens: Julinho, Flávio, Vadu, Wilson e Rui Lisboa. Acervo: Iolanda Lisboa.

Vale lembrar, também, o Serviço de Alto-Falante Brasil Central instalado no Alto da Igrejinha, com estúdio na casa pertencente ao famoso rábula Wilson Afonso, cuja locutora, dona Zazá (Nilza Bastos Brandão) anunciava – com originalíssima pronúncia – a música do famoso Ídolo Negro que morreu no ano de 1973, aos 27 anos, em acidente automobilístico: 

Seu Abel e Dona Zazá. Acervo: Sérgio Braga
— Ouviremos, agora, com Evaldo Braga, Surria, Surria. 

Além do alto-falante de Dona Zazá, havia mais dois: o de Jessé, no Clube 2 de Julho, e outro na Praça da Bandeira que, à tardinha, seus locutores, entre eles, João Nogueira, Terencinho e Flávio, anunciavam seus filmes: 

— Este é o Serviço de Alto-Falante a Voz do Cine União anunciando para hoje, às 20 horas e 45 minutos, uma grandiosa película cinematográfica, em technicolor, intitulada: Django Volta para Matar, com Hugo Blanco, John Clark e Gustavo Rojo. 

Existiam, ademais, os serviços de alto-falantes volantes, geralmente, utilizados para anunciar a chegada de alguma personalidade política, um artista ou convidar o público para assistir aos famosos dramas de Seu Iozinho (Raimundo Martins da Costa), expoente maior na dramaturgia da nossa região, que assim anunciava suas peças: 

Iozinho. Foto: Reprodução/Facebook
— Este é Serviço de Alto-Falante Volante anunciando para hoje, às 20 horas e 30 minutos, no Clube 2 de Julho, uma grandiosa peça teatral intitulada: Aliança Partida ou A Cruz de Magda. 

O que mais me despertava atenção em seus dramas, muito bem encenados e de bom conteúdo, era a duplicidade de títulos, como, por exemplo: As Mágoas de Jacó ou O Filho da Velhice; O Anjo Protetor ou Os Amores de Pilatos etc. 

Para atores e atrizes é indispensável um registro especial. Eis alguns nomes de que me lembro (ou que me lembraram): o próprio Iozinho Costa e os filhos Javan Carlos, Flamarion Antônio, Diana, Ítalo Ipojucan e Wedem de Sordi; Cotinha Ferreira e os filhos Anatole e Júnior; Lourdes Ferreira e a filha Maria Raimunda; os irmãos Carlúcio e Vandinho de Agostinho Relojoeiro; Kamezinha; Esmeralda de Tinhô Queiroz; Jorge de Zefina Borba; Dinalva de Milton Saruê; Nenê de Tutu Ferreira; Binha de Emílio Leão; Nalvinha de Rosi Rocha; Jeová de Abílio, Maria de Alfredo Bahia e o sonoplasta Antônio Augusto Santos (Tõi Rosinha). 

Encenação de uma de suas peças teatrais, os famosos dramas. Acervo: Jorge Queiroz.
Aliança Partida ou A Cruz de Magda. Atores: Júnior, Iozinho, Jeová (?), Maria e Anatole. Acervo: Anatole.
De volta aos serviços de alto-falantes, é bom registrar algumas gafes memoráveis, que eram inevitáveis, afinal, os programas aconteciam ao vivo, inclusive os comerciais. Vamos lembrar algumas, sem com isso desmerecer ou zombar daqueles que as cometeram, é bom deixar claro. 

Neste rol de palavras impensadas, atribui-se a certo locutor do Cine União que, sentindo-se prejudicado na veiculação de seus anúncios, porque um concorrente do Cine Rex, no Clube 2 de Julho, invadiu seu horário indevidamente. Ele, então, “entrou no ar” e, com veemência e autoridade, ordenou: 

— Atenção! Muita atenção, Jessé! Atenção! Muita atenção, Jessé, tira o seu qu’eu quero botar o meu!  

Outro locutor que detinha programa semelhante em São Félix do Coribe, ao anunciar os pedidos musicais, à semelhança dos parques de diversão, deu esta risível nota (assim me contaram!): 

— Atenção! Muita atenção O. X. Atenção! Muita atenção O. X, ouça esta gravação que Felícia lhe oferece como prova de muito amor e carinho, com Roberto Carlos, Te amo, te amo, te amo. 

No meio da execução da música, o mesmo locutor baixou o volume do som, manteve-o como fundo musical, e fez esta hilária inconfidência: 

— Meus caros ouvintes, eu, como não gosto de segredo, OX quer dizer Ontõi Xofer. 

Contam também que outro locutor de uma cidade vizinha à Santa Maria da Vitória, num idêntico programa de oferecimentos musicais, solta esta pérola: 

— Atenção, muita atenção, Diocleciano, mais conhecido por Dió. Atenção, muita atenção Diocleciano, mais conhecido por Dió, ouça a próxima gravação que Georgina lhe oferece como prova de muito amor e consideração, com Gigliola Cinquenta, Dió, como te amo. 

Não faz mal lembrar que o locutor se referia à cantora e atriz italiana de enorme sucesso nas décadas de 1960 e 1970, Gigliola Cinquetti, e não Cinquenta. E a música era Dio come ti amo, também nome do filme estrelado pela linda, competente e apaixonante cantora. 

Já outro locutor, ao dar uma nota fúnebre e convidar a população para acompanhar o féretro, sem atentar para o que estava escrito, anuncia “morte antecipada” de alguém, ocorrida em outra cidade. 

— A família enlutada do senhor Jayme cumpre o doloroso dever de comunicar aos parentes, amigos e ao povo em geral, o seu falecimento ocorrido em Brasília e, ao mesmo tempo, convida a todos para o seu sepultamento no Cemitério Santa Verônica, tão logo chegue o “enfermo”. 

Mais recentemente, conta-se também que certo disk jockey, ao dar a hora certa para seus ouvintes, resolveu contrariar a semântica: 

— Rádio Rio Corrente, 810 quilo-Hertz de potência, informando a hora certa: são mais ou menos 11 horas, em Santa Maria da Vitória, Bahia.

Quase todos os locutores de serviços de alto-falantes santa-marienses, ao entrarem no ar ou ao saírem do ar com seus programas diários, invariavelmente, transformavam prefixo e sufixo, de antônimos que são, em sinônimos. Usavam indistintamente “prefixo musical” tanto para entrarem no ar quanto para saírem, quando, para saírem, deveriam usar “sufixo musical”. 

Vale registrar que não há, aqui, qualquer intenção de criticar aquele ou aqueloutro que, por ventura, julgar-se identificado. As gafes são percalços da profissão, ossos do ofício que, com esta crônica, desejo, sim, homenagear os profissionais da comunicação, jamais fazer qualquer tipo de chacota. 

Tudo isso são gratas lembranças e registros indeléveis, porque, em dias atuais, na era de potentes alto-falantes e sofisticadas aparelhagens sonoras, estes serviços de comunicação evoluíram para os barulhentos carros de som, que anunciam eventos ou propagandeiam produtos com o volume lá nas alturas, a deixar qualquer um atordoado, no limiar de um ataque de nervos.

Referências

Ave Maria (Franz Schubert)

Tema de Lara (Theme From Lara - Al Korvin)

Dio Come Te Amo (Gigliola Cinquetti)

Sorria, sorria (Evaldo Braga)
https://www.youtube.com/watch?v=CN5oyowzCtk

Quem sou

Crônica da luz intermitente

Aquele teria que ser um dia muito especial, bem fora da minha rotina. Foi 1º de maio de 2024, algo bem recente, Dia do Trabalhador e dia dos...