domingo, 3 de maio de 2020

Um ex-aluno da “Rosa Imperecível”

Maria Rosa de Oliveira Magalhães, “Professora Imortal: Rosa Imperecível”, a quem os santa-marienses devem deferência e gratidão. 

Trás-anteontem, último dia de um mês que “abriu” contagem e não queria “fechar”, deparei-me com uma bela e merecida homenagem a Maria Rosa de Oliveira Magalhães ou, simplesmente, Rosa Magalhães, prestada por Justino Cosme, para, enfim, “fechar” o mês de abril de 2020. É que dia 28 completou 30 anos da partida da “Professora Imortal: Rosa Imperecível”, como a ela se referiu em uma de suas crônicas, seu ex-aluno Clodomir Santos de Morais.

Ao ler a tão comprometida e bonita trajetória de vida da professora Rosa Magalhães, comecei a buscar nas minhas memórias afetivas as lembranças desta mestra incomparável e como foi ser seu aluno no já distante ano de 1967, quando colocar um filho na escola não era nada fácil.

Novais Neto e Janilza Almeida (Nena) na Escola de Dona Rosa. Foto: Acervo do autor. 1968.
Comecei minha vida escolar como aluno de alfabetização, o antigo ABC, da professora Lia Prado (89 anos), quando tinha 7 anos de idade, em 1965, na sua própria residência, na Praça Joaquim Queiroz (Jardim de Tezinho).

Professora Lia Prado por ocasião do lançamento do meu primeiro livro em 1988.
No ano seguinte, 1966, fui matriculado nas Escolas Reunidas Nossa Senhora das Vitórias, e aluno por curto espaço de tempo da professora Lúcia Braga, numa sala que funcionava onde é atualmente a Associarte, em frente ao Jardim Fifa. No mesmo ano, mudei de sala e fui para o prédio Luiz Palmeira, defronte a tenda de Nélson Neves, quando fui aluno de Carmen Laranjeira e colega de Jairo Rodrigues da Silva, Jairo de Vavá de Cirilo.

Começa o ano de 1967. E lá estou eu no Educandário Popular Oliveira Magalhães, já alfabetizado, para ser aluno de Dona Rosa numa pequena sala que ficava entre a Foto Estrela e a Farmácia Ultra Econômica, para cursar o primeiro ano primário. Nessa época, contava meus 9 anos de idade. Uma das professoras auxiliares era Toinha Coimbra, que posteriormente, por ter parado de estudar, viria a ser minha colega no Curso Básico do Centro Educacional Santamariense no ano de 1975. E rememorávamos com alegria o tempo em ela foi minha mestra. E até hoje, diga-se de passagem, fazemos isso sempre que nos encontramos.

Curso Básico do Centro Educacional Santa-Mariense, 1975. Foto: Neném. Acervo do autor.

Professoras: Nucinha, Rosa Magalhaes, Nena e
Glécia no Jardim Jacaré. Foto: Hermes Novais.
A Escola de Dona Rosa, como a chamávamos, era tão famosa e reconhecida pela sociedade como uma das melhores de Santa Maria, que alunos de outras escolas chamavam-na Escola Manga Rosa, numa espécie de bullying, para nos pirraçar. E virava briga, muitas vezes.

O período em que fui aluno de Dona Rosa marcou-me muito a vida de estudante. Lembro-me de que fazíamos as provas em papel almaço pautado, tudo escrito a lápis. E a borracha era, quase sempre, o próprio dedo umedecido com saliva. Acho que fui um bom aluno, visto que, no final do ano, quando as provas foram entregues, Dona Rosa falou com minha mãe que era um “menino ladino” e poderia me matricular no terceiro ano. Assim, pulei o segundo. E pulei de alegria também!

Fotos de provas de quando fui aluno de Dona Rosa Magalhães (1967).

Dona Lucília Nery e Novais Neto. 2019.
Agora, aluno do terceiro ano da mesma escola, fui estudar com a professora Lucília Nery (90 anos). Tudo muito bonito. Um monte de livros de capas coloridas, foto tradicional numa mesa e uma sala repleta de alunos, dentre eles, João Nogueira da Cruz, Joãozinho de Dona Rosa, como era conhecido, por ter sido criado pela mestra no seu Internato. Esse mesmo colega ajudou-me a reconstituir a lista, que chegou a 38 alunos, daquela turma, alguns com nomes incompletos, como mostro no final desta crônica.

Ah! terceiro ano! Não foi fácil. Não tinha costume de estudar em livros, acompanhar as matérias foi difícil e o resultado foi decepcionante, certamente jamais esperado por Dona Rosa. No boletim escolar, eram inseridas por volta de 50 notas durante o ano. Enquanto a caderneta de meus colegas era de notas azuis (a partir de 5) com algumas vermelhas (abaixo de 5), a minha era exatamente o contrário. Tive, acreditem, 42 notas vermelhas, as famosas bombas. E o resultado não poderia ser outro: reprovado, merecidamente!

Diante de notas que me envergonharam, não queria repetir o ano na mesma escola. Minha mãe, então, matriculou-me (de novo) nas Escolas Reunidas Nossa Senhora das Vitórias e eu fui ser aluno, em 1969, da competente e bela professora Eldy Suely Bueno, filha do médico Eliecin Bueno, no Grupo Escolar Dr José Borba. Infelizmente, naquele mesmo ano, seu pai viria a falecer e ela mudou-se para Salvador, quando assumiu seu lugar a experiente e renomada mestra Dona Nucinha Laranjeira. Logrei êxito naquele ano, sem qualquer susto, como um dos bons alunos da turma. Dirão agora: “Repetente também, queria o quê?”.

E para finalizar o curso primário, o quarto ano, continuei na mesma escola, embora mudando de lugar. Fui para o Grupo Escolar Dr. Luiz Viana Filho, no Alto da Igrejinha, 1970, ano de acirrada (e perigosa) política na cidade de Santa Maria, quanto até mortes aconteceram. Minha professora foi Dilza Borges Soares, esposa do então candidato a prefeito, Tito Lívio Nogueira Soares.

Fotos de provas de quando fui aluno de Dona Nucinha Laranjeira (1969) e Dilza Soares (1970).
Foi um ano também tranquilo. Obtive média para fazer o Programa de Admissão, algo semelhante a um vestibular do curso primário para ingressar no ginásio. Tive como professora de curso preparatório, Irani de Paula. Fui aprovado, isto é, não precisei fazer o quinto ano, e matriculei-me no Centro Educacional Santamariense, onde estudei os quatro anos do Curso Ginasial (1971–1974), o Curso Básico (1975) e Contabilidade (1976–1977).

Eis, portanto, o período que estudei em nossa querida Santa Maria da Vitória, onde fui e sou muito feliz. Feliz por ter tido professores maravilhosos, comprometidos e que muito marcaram minha trajetória de estudante, dentre esses metres magistrais, o privilégio e a sorte de ter sido aluno da “Rosa Imperecível”, a Rosa Magalhães: Maria Rosa de Oliveira Magalhães!

Rosa Magalhães. Década de 1990. Fotos: Hermes Novais.
Salvador (BA), 3 de maio de 2020, domingo.

Referências:

COSME, Justino. A Rosa adormece há 30 anos. Disponível em: <https://web.facebook.com/justinocosme.santos/posts/2694035054056173>. Acesso em: 30 abr. 2020.
MATOS. Alderi de S. A vida do Rev. Henry John McCall. Disponível em: <https://agrestepresbiteriano.com.br/a-vida-rev-henry-john-mccall/>. Acesso em: 30 abr. 2020.


Colegas do Terceiro Ano Primário do Educandário Popular Oliveira Magalhães, professora Lucília Nery, ano de 1968:


1) Adélia Dourado (filha de Leonídio Dourado)
2) Adenor Mariano (irmão de Pedro Mariano)
3) Adnil Novais Neto (Novais Neto)
4) Aimê Pereira de Castro
5) Belmiton Ataíde (Tom, irmão de Benílson Ataíde)
6) Biola (prima de Pedro, irmão de Maristela e Esquerdinha)
7) Carmen Fran (branca, de Vitória da Conquista, moradora do Internato de Dona Rosa)
8) Célia Franca (neta do Velho Jesus)
9) Ênius Neri (sobrinho de Dona Lucília)
10) Esmeralda de Queiroz Monteiro (filha de Tinhô Queiroz)
11) Gamal Farah (filho do sírio-libanês Elias Farah)

12) Haroldo Oliveira (filho de Álvaro do Mercado)
13) Jaime Nogueira Novaes (Jaime Charuto)
14) Jaime Pereira da Silva (Jaime Coruja, Jaiminho de Odílio Gongo)
15) João Batista Mendes da Veiga (Batista de dona Milu)
16) João Nogueira da Cruz (Joãozinho de Dona Rosa, morador do Internato)
17) Jorge Luiz Rocha Fagundes (Jorge de Sinhô de Nini Rocha)
18) Josafá Leite Santos (Doda de Zé Leite)
19) Jussara Campos Cordeiro (irmã de Paulão de Petrônio)
20) Juvenal Neri (sobrinho de Dona Lucília)
21) Lígia Oliveira (filha de Álvaro do Mercado)
22) Lourdes Aquino (Lurdinha da Vila Formosa)
23) Lúcio Almeida da Silva (Lúcio de Josael)
24) Luiz de Sá Filho (Luizinho de Luiz Soldado)
25) Manoel Emílio (Mano, irmão de Ito Pezão)

26) Maria (Rita de Miranda, baterista do Conjunto Musical Apocalipsom)
27) Nadir Ataíde (irmã de Belmiton)

28) Nailda (filha de Nadim)
29) Neide (Neidinha de Lindaura de Nego)
30) Newton (filho de Dôca do Bar Santa Clara)
31) Nilza (era uma magrinha, branca, de cabelo longos e negros)

32) Palmira Pereira (Palmira do Laboratório)
33) Paulo Clécio Rocha Fagundes (Paulo de Sinhô de Nini Rocha)
34) Pedro (Esquerdinha, que morava com Paulo Soares, 
irmão de Maristela)
35) Regina Oliveira (Regina de Netinho Bodeiro)
36) Reidson (Disson)
37) Rosival da Silva Neves (Rosi Soldado, Peixe)
38) Valter Neri (sobrinho de Dona Lucília)
39) Regente (José Dias da Silva, neto de Seu Tavinho, ex-prefeito de Jaborandi) 


Obs.: Caso algum ex-colega relembre de nomes ausentes nesta lista, inclusive quanto a nomes que estejam incompletos, manifeste-se, para que possamos atualizá-la.

17 comentários:

  1. Parabéns Novais! Belíssima homenagem aos mestres deste país.

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    1. Muito obrigado. Os mestres merecem muito mais. Abraço.

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  2. Eu amo teus escritos, Novais. Eu chego a ouvir. Viajo no tempo em que vivi aí e me plantei em Santa Maria e São Félix. Valeu o domingo!

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  3. Fantástico! Admiração total por esses escritos. Obrigada pela honra desses registros!

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  4. Novais; vc é surpreendente corrente. Me vem a memória D.Rosa em muitos momentos na Igreja Presbiteriana aqui em Samavi.Parabéns! Um grande abraço.

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  5. Novais, vc me fez voltar no meu tempo de infância. Linda homenagem aos professores e belas recordações.

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  6. Novais Neto, boas e certeiras homenagens e lembranças. Como sou um pouco mais novo, depois fui colega de alguns ex-colegas seus (prováveis "repetentes" depois de você): Josafá (Doda), Gamal e Luizinho - quando fui aluno de Dona Zélia Borges, Dona Nucinha e Dona Elita Leite - no 3o., 4o. e 5o. anos (nos Grupos Dr. José Borba e Rolando Laranjeira) - anos de 1970-71 e 72. Quanto a sua ex-colega que Vc. Niminou: AIMÊ QUEIROZ, acho que se trata do minha saudosa prima AIMÊ PEREIRA DE CASTRO, também prima de Belmiton e Nádir Ataide, pois os três estudavam na mesma série e talvez a minha irmã Virgínia Pereira (Virgínia de Vá), tenha estudado junto também. Vou ver com ela e lhe informo depois.

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  7. Meu caro Novais, que bela viagem ao passado, e o privilégio de termos estudado com toda essa galera e principalmente com as belas garotas, hoje senhoras, e era um tempo bom, tirando os dias péssimos em que dona Lucília acordava de mau humor, nas sabatinas de leituras e tabuadas. Lembra que o Rosi era apaixonado por Jussara de Petrônia? kkk. Newton de Dôca era apaixonado pela Lígia e eu pela Neidinha de Nêgo de Lindaura. Amor platônico apenas. Dê uma checada com os nossos contemporâneos ainda vivos,claro né, com relação a alguns nomes. O Jeová Irmão de Rita, parece que era da nossa turma, idem Margareth de dona Nana Athayde; A Biola,era prima de Pedro,um aluno interno ambos de Cocos e acho eu que ele, Pedro também o era. Tinha também uma garota que morava na casa de Dona Lindaura, de nome Lurdinha que foi da nossa turma. A Carmen Fran, era uma linda garota branquinha de Vitória da Conquista, linda pra caramba, o nosso pitelzinho no colégio interno. Joselito deve se lembrar dela. A Aimê que estudo conosco era uma das Netas de seu Modesto, também avô de Virgínia,só que essa Virgìnia foi da turma de Beia, Saulo irmão de Sara, Rogério, Lucivan, Mirtinha.Também acho que Virgínia do Mestre Adelgundes fez parte da nossa turma, já que ela, juntamente com Jussara, Margareth, Virgínia,esmeralda,Aimê, Bemilton etc fizeram parte da turma de oitavo ano da Sílvia, que concluíram o primeiro grau em 1973, Tendo Adão Fé Souza, como paraninfo e dona Rosa como patrona. Foi a última formatura realizada no Colégio Popular Oliveira Magalhães. A Nilza,que foi aluna interna, e depois fez parte da sua turma de curso técnico não me lembro dela no terceiro ano, só do segundo ano. Também acho que o Lúcio, depois do segundo ano foi para outra escola. Agora o que vale neste teu belo registro, é trazer à tona colegas marcantes nas nossas vidas, alguns que até já se foram, e mostrar aos descendentes o resgate do passado deles, com os pais e alguns avós.Vendo a sua foto com Nena, lembro que a minha a minha mãe perdeu. Uma pena!
    Adorei as fotos! A Dona Lia é a mãe do nosso amigo Lucival?
    Que belo resgate você fez para homenagear grandes Mestras, infelizmente não estudei com nenhuma delas. Explico: Dona Rosa foi minha diretora no meu primeiro ano de internato, até tomei uma dúzia de bolos(palmatória) mas em sala de aulas nunca estudei com ela. Só nas aulas de religião nos cultos domésticos.Muito obrigado pelo belo resgate, e agradeço a Deus por fazer parte desta sua história, que também é a minha história e a história de todos os citados e seus descendentes. Parabéns! Ia me esquecendo... Na hora da foto você e Nena não tinha tomado café? Estão com uma cara de fome........kkkkkkk

    JOÃOZINHO DE DONA ROSA

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  8. Prezado Novais Neto,
    Corrigindo as informações anteriores, minha irmã, Virgínia Pereira, disse-me que: ela e nossa prima AIMÊ PEREIRA, não eram daquela turma. Que existia sim uma AIMÊ QUEIROZ que foi sua colega.

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  9. Tenho um sentimento grande, poeta: Dona Rosa era minha frequesa de banana maçã.
    Ela escolhia as bananas numa paciência, em função da idade tb, né? e demorava mais ainda pra contar as moedas pra me pagar.
    Por quemeu Deus,eu não disse pra ela como São Pedro disse pra Maria, no poema de Manuel Bandeira: " entra Maria. Aqui vc não precisa pedir licenca.
    Eu teria que dizer: Dona Rosa, a mim a senhora não tem que pagar um centavo.
    E sair, depois de um bj na cabeça que sempre me dava.
    Sinto falta daquela Santa.
    Com lágrimas, saúdo a sua memória e dom de sensibilizar.
    Ave, Poeta!
    NAVE, professora do poeta!

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  10. Parabéns grande Novais de Santa Maria da vitóri, parabéns, parabéns, parabéns. Fui muitas vezes na exposição com o deputado Eujacio Simões de avião, dei muitos rasantes ao chegar.

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  11. Que maravilha e belo resgate da nossa história com essa pessoa ilustre D Rosa, muitas saudades desse tempo, do nosso Colégio Popular Oliveira Magalhães. Lembrando da Professora Lucília, muitos queriam pular o 3o ano kkkk, eita tempo bom, olhando no retrovisor, é muita vontade de dá boas gargalhadas. Parabéns pelo texto, faz muito bem para todos que nós que vivemos esses momentos. Grande abraço meu amigo

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  12. Que maravilha e belo resgate da nossa história com essa pessoa ilustre D Rosa, muitas saudades desse tempo, do nosso Colégio Popular Oliveira Magalhães. Lembrando da Professora Lucília, muitos queriam pular o 3o ano kkkk, eita tempo bom, olhando no retrovisor, é muita vontade de dá boas gargalhadas. Parabéns pelo texto, faz muito bem para todos nós que vivemos esses momentos. Grande abraço

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  13. Gamal de Elias Farah também foi meu colaga. Ele foi colega seu e meu. Acho ele era especialista e repetir de ano, apesar de muito inteligente. Por onde andará Gamal?

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  14. Uma professora de verdade é inesquecível e que belos ensinamentos a professora Rosa os deixou, hem? Excelente recordação. Beijos.

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  15. Eu nasci no Ramalho, próximo de Santa Maria da Vitória. Quando menino ouvi muito falar da escola "Dona Rosa" e até conheci um de seus alunos. Considero privilegiados os alunos que lá estudaram.

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  16. Tempo bom! Haroldo e Lígia são meus irmãos. Também Da. Rosa foi minha professora. Naquela época quem não era bom na matemática levava umas palmatórias.

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