sexta-feira, 11 de agosto de 2023

O ponto e o susto

Naquela manhã de 30 de janeiro de 2012, segunda-feira, como habitualmente faço, às 5h30, mais ou menos, já estava no Dique do Tororó a fazer minha deliciosa caminhada. Céu nublado e dia frio para os padrões soteropolitanos, todavia muitíssimo agradável, ensejavam uma paz bucólica, carregada de boas energias, ofertante de serotonina e dopamina.

Durante a caminhada, encontrei alguns corredores e andadores, companheiros antigos e recentes que têm o privilégio, assim como eu, de curtirem a beleza daquele belíssimo espelho d’água. Nem tudo, entretanto foi tão bonito assim, pois presenciei em frente ao Habb’s, antiga Usina Geradora do Dique, a queda de um motociclista que, felizmente, nada de grave lhe aconteceu.

Ao retornar para casa, dei início à rotina matinal: liguei o computador e deixei rolar as músicas que me trazem a lume minhas doces memórias afetivas. Em seguida, tomei um banho e sorvi uma vitamina exótica, extravagante ou gororoba para alguns amigos, nutritiva e muitíssimo deliciosa para mim. E ponto final! Ou c'est fini, no meu francês de incipiente ou de “menino exibido”.

De volta ao computador para organizar minhas atividades diárias, uma vez que no final de semana não pude fazê-lo por estar de plantão na Transalvador, onde trabalho, fui ver o correio eletrônico dos meus tempos de bancário. Modernamente, a expressão voltou às origens, regrediu, isto é, retornou para o Inglês: e-mail (abreviatura de eletronic mail, que numa tradução livre é o meu jurássico e inolvidável “correio eletrônico). “Vai lá entender essa humanidade!”, por certo diria a sorrir Jurandir Pereira (Buranda), colega da época ginasiana lá pelos idos dos anos de 1970.

A caixa de mensagem normalmente está repleta de lixos eletrônicos que separo dos aproveitáveis e descarto-os sem dó nem piedade. Dentre aqueles interessantes, dois vieram da minha ex-colega e querida amiga do Banco do Estado da Bahia, Hildair Vasconcelos, Hildita, como carinhosamente a apelidei.

O primeiro, por título “Eis o ponto”, mostrava um teste aparentemente sério, de como devemos nos prevenir do Mal de Alzheimer ou de suspeita de que já o “tenhamos”. Em cada página do slide surgia um ponto vermelho, bem pequeno, em algum lugar de uma figura, que deveríamos localizar e dar um clique sobre ele. Ao fazer isso, outra página aparecia e tudo se repetia, porém, noutra figura cada vez mais complexa e de difícil localização do tal ponto, o que acabou me entretendo por demais.

Gradativamente, a dificuldade aumentava, e mais e mais eu ficava envolvido e levando a sério aquele desafio, até que, em determinado slide, o ponto aparece bem facilmente, ao contrário dos anteriores, nem desconfiei. Ao clicar nele, vem a desagradável surpresa: na página, aparece instantaneamente um pavoroso capeta a expelir fogo pelas ventas e sangue pela boca, que ocupa toda a tela do monitor e dá uma horripilante e estrídula gargalhada. Quase caí de costas da cadeira! O coração foi a mil!

– Que zorra, Hildita! Que brincadeira mais besta! – assustado, desabafei comigo mesmo.

Ilustração de Adriel Santos. 2023
Refeito do susto, voltei a ler as demais mensagens. E outra, também enviada por minha amiga, trazia por título “A grande viagem do espírito”. Comecei a ler. Li duas ou três páginas, quando senti o cheiro forte de algo queimando. Levantei-me, de supetão, da cadeira, corri para a cozinha e deparei-me com um cenário antagônico: de um lado, uma panela queimando com dois ovos esturricados a feder e aquele fumaceiro atemorizante; de outro, um filtro aberto e uma moringa a derramar água. E eu pensei comigo mesmo ante aquela quase “tragédia”: Até você, poeta, dando mole pro capeta?

Obrigado, Hildita, mesmo assim! Se, por um lado, seus e-mails me entretiveram tanto, a ponto de quase provocar inundação e/ou incêndio no meu apartamento, a mensagem do segundo é verdadeiramente uma “grande viagem”. Tenho certeza, por outro lado, de que não foi Alzheimer, o alemão do seu correio eletrônico, mas o entretenimento causado pelo bendito e/ou maldito computador, jamais arte do encardido, isso a depender da crença pessoal. No entanto, por via das dúvidas: “Vade retro, Satanás!
”.

14 comentários:

  1. Vade retro, Satanás!!! Cada coisa que acontece!

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  2. Parabéns, meu amigo poeta!

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  3. Esse poeta sempre inovando e buscando coisas no fundo do baú, boas lembranças que faz melhorar nossa respiração. Tempo bom não volta mais sinto saudade daquele tempo. Abraços meu amiga você é o grande poeta e ser humano.

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  4. Esse anônimo é Getúlio Nery Barbosa, amigo do poeta

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  5. Muito legal muchacho!!
    Poeta da terra!!⁹

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  6. Bravo. Meu amigo. Bjs. Lúcia

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  7. [João Sindvaldo, via whatsApp]
    Alô Novais,
    Boa noite!
    Você sempre inovando! Mais uma boa crônica narrada numa linguagem simples, de forma artística e pessoal, relacionada a acontecimento cotidiano. Texto descrito de forma real ou imaginária com objetivo de divertir o leitor e/ou levá-lo a refletir sobre boas lembranças. Ótima narrativa!
    Vou compartilhar com dois grupos dos quais eu participo.
    grande abraço!

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  8. Que susto!!!! Muito bom, meu amigo!!!!

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  9. Parabéns, poeta. Eu que o diga: quando estou no computador fazendo alguma arte, me esqueço de quase tudo ao redor. Panelas queimaram também por aqui. Kkkkkkkk.

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  10. (Gilda Oliveira, advogada, Belo Horizonte, para a crônica "O ponto é o susto").
    Somente hoje, agora, li a crônica que vc me enviou dias atrás. Como sempre os seus escritos me prendem a ponto de antever o final. Só que o desfecho me surpreende. Nada do que eu imaginava. E isto é muito interessante. O escritor faz estas pegadinhas gostosas na imaginação dos leitores. Vc faz isto com maestria. Parabéns!!!

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Crônica da luz intermitente

Aquele teria que ser um dia muito especial, bem fora da minha rotina. Foi 1º de maio de 2024, algo bem recente, Dia do Trabalhador e dia dos...