segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Raimundo Neto, radialista

Anos atrás, exatamente no dia do meu aniversário, 24 de outubro, recebi um áudio da poesia “A doce química do seu olhar volátil”, do amigo Raimundo Neto, radialista santa-mariense. Fui tomado de uma enorme emoção, que nem o ouvi por completo. Deixei para me comprazer noutro momento.

No poema, utilizo-me de termos da Química, minha formação superior, para dar vazão a uma fictícia história de amor. Não foi fácil, visto que muitas palavras que nela emprego, são técnicas, o que poderia dificultar a mensagem a ser dada. Depois de algumas tentativas, erros e acertos, a poesia ficou pronta, pelo menos para minhas pretensões.

Mas, afinal, o que o radialista achou de interessante em “A doce química do seu olhar volátil”? Não sei. Sinceramente! Fato é que, quando estive em um dos seus programas matinais, além de falar da minha trajetória como poeta, trovador e escritor, declamei a tal poesia, dentre outras, e percebi que Raimundo Neto demonstrou haver gostado.

A declamação ficou perfeita e os termos químicos foram pronunciados como se Raimundo tivesse muita afinidade com eles. Mas, se não tem com eles, tem, sim, com as palavras, ferramenta do seu trabalho cotidiano. E aí, quem é esse locutor?


Nascido em Santa Maria da Vitória, no dia 27/5/1956, Raimundo Barbosa Neto, é primeiro rebento do casal Zeferino Barbosa de Souza (Seu Barbosa) e Valdivina Rosa de Souza (Dona Diva), que teve mais seis filhos. Ele veio ao mundo pelas mãos da experiente parteira Dona Emília, em uma casinha humilde na Rua do Riacho, atual Manoel Coelho, próxima da antiga Coelba, onde é hoje Plano Vida Familiar, na Rua de Baixo.

Raimundo Neto e Dona Diva - Seu Barbosa e Raimundo Neto. Acervo familiar.
Neto foi criado em Cachoeira Grande, município de Correntina (BA), onde ficou até os cinco anos de idade. Mudou-se com a família para Brasília em 1961, quando a Capital Federal tinha apenas um ano de criada. Morador da Vila Tenório, estudou até o 5º. Ano Primário em escola do Núcleo Bandeirante.

Nessa época, aos 13 anos, nosso futuro radialista, disse ao pai que não iria mais estudar, iria trabalhar, a contragosto do seu genitor. Ele conta, com ponta de saudade, que o pai, Seu Barbosa, vivia sintonizado em rádios que tocavam músicas caipira, e que gostava muito, mesmo tendo apenas seis anos de idade.

Certa feita, em umas de suas peraltices de criança curiosa, desmontou o rádio de Seu Barbosa para ver se havia uns homenzinhos lá dentro conversando. E, ao contrário do que poderia se esperar, o pai não o repreendeu, apenas lhe explicou, a seu modo, como funcionava aquele aparelho. Raimundo, ainda pirralho, visionou: “Meu pai, algum dia, eu ainda vou trabalhar nisso”.

Já maiorzinho, meninote de seus 15 anos, comprava garrafas vazias para revendê-las; vendia ovos numa grade de madeira amarrada com arame; também vendia jornais como Correio Brasiliense e Última Hora. E ainda sobrava tempo para engraxar sapatos. Tinha uma boa e fiel clientela.

Dentre seus fregueses mais assíduos, na Vila Tenório, um deles era um cidadão elegante, perfumado, sempre a vestir um terno bem cuidado e um vistoso chapéu preto. Esse homem, Raimundo acabou por descobrir de quem se tratava, ao vê-lo estampado na capa de um LP, os antigos “bolachões”. Esse cidadão era, nada mais, nada menos, que o baiano Waldik Soriano, consagrado cantor e compositor em início de vitoriosa carreira musical nos anos 1960.

O ex-engraxate de Waldik Soriano e o menino engraxate.
Ao fazer 18 anos, Neto foi trabalhar na Transporte Coletivo de Brasília (TCB). Começou como servente e chegou ao posto de Lançador Contábil, cargo normalmente exercido por alguém de Nível Técnico. No intervalo do almoço, de duas horas, usava uma hora para treinar locução, comportamento ironizado por seus colegas. Durante o expediente, sempre ouviu músicas com fones ouvidos, algo que, segundo ele, não o atrapalhava, deixa-o, sim, mais concentrado.

Na década de 1980, já era ouvinte assíduo de Zé Bétio, da Rádio Record (SP), Rádio Capital (SP) e dos programas de rádio de Brasília, como Edelson Moura, Márcia Ferreira e Titio Gilvan Chaves. No início, ouvia músicas internacionais, principalmente as do Rei Roberto Carlos e da turma da Jovem Guarda.

Raimundo sempre esteve presente em programas como o de Jota Rodrigues, natural de Coribe (BA), por título “Lá onde eu moro”, na Rádio Capital de Brasília; em programas de músicas sertanejas, como “No Balanço da Viola”, apresentado por Euclides de Freitas, no Sesi de Taguatinga (DF), quando veio a se juntar ao amigo Nicácio e formar a dupla sertaneja Neto e Nicácio, que não foi adiante.

No ano de 1985, retornou à Bahia, vindo a morar em Jaborandi, à época, município de Correntina. Lá inaugurou a Boite Dancing Night, empreendimento de enorme sucesso na região.


 
Em 1988, foi residir em Santa Maria da Vitória. Ingressou na Rádio Rio Corrente, onde permaneceu por 10 anos, fazendo os programas “Amanhecer no Sertão”, pela manhã e, à tarde, “No Balanço da Viola”. Ainda em Santa Maria, trabalhou na Rádio Cultura Oeste FM, no bairro do Malvão até 2003.

Com a inauguração da Rádio Cultura FM em São Félix do Coribe, cidade coirmã de Santa Maria da Vitória, criou o programa “Alvorada Sertaneja” e trouxe consigo o “No Balanço da Viola”. Lá permaneceu por mais de 13 anos.

Mesmo trabalhando na Cultura FM, criou com seu filho Nife e o amigo Luiz a Rádio Vital FM, onde faz atualmente seus programas radiofônicos. Tal nome foi definido lá no distante 1983, ano de nascimento de seu filho mais velho, acima citado.

Raimundo mora atualmente na cidade de São Félix do Coribe, é dono do Studio Brasília, onde faz gravações de áudios comerciais e de eventos em geral, e os divulga num reboque, com caixas de som, puxado por uma motocicleta, que circula pelas ruas de Santa Maria, São Félix e cidades circunvizinhas.

Jandira Almeida, mãe de Novais Neto, e Raimundo Neto no Studio Brasília.Acervo do autor.
Conheci esse locutor autodidata, de dicção clara e português primoroso, através do meu irmão Hermes Novais, lá pelos idos do ano de 1990. Com já disse, estive em algumas oportunidades em seu programa “Alvorada Sertaneja”, onde sempre me senti casa, dada sua enorme satisfação com que me recebia.


Hermes Novais, Celo Costa e Raimundo Neto.Acervo do autor.

O radialista é daqueles de “horário britânico”, não admite atraso em compromissos assumidos. Se isso acontece, dificilmente seu convidado terá outra oportunidade. Com tal comportamento, certa feita, quase perdeu emprego em uma rádio, pois se recusou a entrevistar um famoso político da região, pelo fato de o mesmo ter chegado com atraso, o que foi remediado por outro entrevistador, amigo seu, que lhe salvou a pele.

Outro fato corriqueiro que posso narrar é quando ele encontra alguém pelas ruas e esse alguém diz ser seu ouvinte. Raimundo, para testar se é verdade, pede que ele complete o dito popular, repetido a cada vez que anuncia a hora certa: “relógio que atrasa... não adianta”. Se não completou ou completou errado, ele franze o sobrolho e, com olhar de esgueio, sinaliza desconfiança.

Página de abertura do site da Rádio Vital FM, criado em 1983.
Também, criar personagens em seus programas radiofônicos é seu forte, e assim nasceram Coroné, Roliço e Jabuti, cada qual com sua voz distinta, que “assumem” os eventuais erros do locutor. Locutor nunca erra! Assim, coitadinho dos personagens, tomam bronca ao vivo. “Conheci" Jabuti, seu auxiliar em selecionar as músicas, até mesmo conversar com os ouvintes e fazer comerciais.

Por outro lado, esses auxiliares fictícios, que sempre tomam puxões de orelha por eventuais erros, são os mesmos destinatários de presentes dos ouvintes, e que os “repassam” ao seu verdadeiro criador: Raimundo Neto. Que maravilha, hein, locutor!

Neto conheceu várias duplas sertanejas em início de carreira, que se tornaram famosa no Brasil e no Exterior, tais como Chitãozinho e Xoxoró, Rick e Renner, etc. E chegou mesmo a dividir tocatas com muitos deles. Fez amizades com Milionário e José Rico; Chico Rey e Paraná; Gino e Geno; Leony, Leonito e Mangabinha; Di Paulo e Paulino, dentre outros artistas do mesmo naipe.

Raimundo Barbosa Neto é casado com Maria Neves Barbosa, há mais de 40 anos, e pai de três filhos: Rodrigo Alessander Neves (Nife), Tatiane Neves (Tati Neves) e Raphael Neves (PH).

Família Neves Barbosa: Maria, Raimundo, Tatiane, Rodrigo Alessander e Raphael. Acervo familiar.
Raimundo Neto entre Leony, Leonito e Mangabinha.Acervo pessoal.

Raimundo Neto e Jota Rodrigues. Acervo pessoal.

Raimundo Neto e Euclides Freitas. Acervo pessoal.

Raimundo Neto e Novais Neto no Reis de São Francisco
São Félix do Coribe - Bahia. Acervo do autor.
Raimundo Neto e Milionário. Acervo pessoal.



Raimundo Neto e José Rico. Acervo pessoal.

Ramundo Neto emtre Milionário e José Rico.

Chico Rey, Aroldo Teixeira, Paraná e Raimundo Neto.

Raimundo Neto, Gino e Geno. Acervo pessoal.

Raimundo Neto entre Di Paulo e Paulino.Acervo pessoal.

Raimundo Neto entre Rick e Renner. Acervo pessoal.

Raimundo Neto entre Rick, Renner e João Queiroz. Acervo pessoal.

Raimundo Neto entre Chororó e Chitãozinho.

Quem sou

Raimundo Neto, radialista

Anos atrás, exatamente no dia do meu aniversário, 24 de outubro, recebi um áudio da poesia “A doce química do seu olhar volátil”, do amigo R...